Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A avalancha de versões no caso bin Laden

A polêmica sobre as várias hipóteses da morte de Osama bin Laden mostra como na era da avalancha informativa provocada pela internet é cada vez maior o espaço ocupado pela exploração das nuances numa notícia, indicando as enormes dificuldades que o jornalismo tem para ater-se a uma de suas regras básicas, que é a identificação da verdade.

Todo o noticiário produzido após o evento se concentrou na exploração das dúvidas, contradições, omissões, desmentidos, especulações etc. envolvendo a execução do homem que o Pentágono classificava como mais perigoso terrorista na face da Terra.


Os fatos perderam espaço para as versões e isso não aconteceu apenas porque as dúvidas sobre a ação norte-americana eram muitas, mas também porque a própria situação era complexa e envolvia muitos protagonistas com interesses divergentes.


Este é um caso típico de eventos jornalísticos com os quais teremos que defrontar no futuro e onde os profissionais não poderão assumir que estão publicando a verdade. Há muitas verdades em torno do mesmo fato e nós somos incapazes de reproduzir ou contextualizar todas elas.


O caso de bin Laden mostra de forma clara como o jornalista tem sempre duas opções a tomar diante de cada fato com que se defronta: acreditar e assinar embaixo das versões ouvidas, ou adotar uma postura crítica, consciente de que não existe uma verdade absoluta.


Na primeira hipótese, o profissional, e também qualquer pessoa que se envolva numa atividade jornalística, assume, consciente ou inconscientemente, um forma de ver a questão e com isso influenciará a percepção que os seus leitores terão do problema, seja contra ou a favor.


Já na segunda alternativa, o fato de assumir uma postura crítica significa que ele está predisposto a não aceitar posições tipo certo ou errado, bom ou mau, justo ou injusto. Um posicionamento como este implica reconhecer que sempre haverá margem para uma nova perspectiva, e que em matéria de notícia não podemos no dar ao luxo de assumir verdades ou erros definitivos.


Não é fácil conviver com a segunda hipótese porque implica conviver com a incerteza e a insegurança. Teoricamente, isso deveria fazer parte do DNA dos jornalistas, mas a realidade é bem diferente. No ritmo industrial da produção de notícias somos levados pela rotina a buscar sempre abordagens dicotômicas na hora de recontar históras para os leitores. E como o caso bin Laden está mostrando mais uma vez, não há como escapar dessa realidade.