Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A burocratização dos debates na TV gera apatia e distanciamento do eleitor

Se há uma coisa que a atual campanha eleitoral deixou bem claro, esta coisa é o desgaste dos debates pela televisão entre candidatos a presidente e a governador.  A monotonia, burocratização e o excesso de regras transformaram os encontros numa espécie de performance pessoal em que o ganhador não é quem mostra mais idéias, mas quem erra menos no vídeo.


A fórmula está desgastada por culpa das emissoras de televisão  e dos especialistas em marketing político que impuseram aos candidatos tantos condicionamentos que eles acabaram virando atores quase que telecomandados.


As emissoras de televisão transformaram os debates num espetáculo em que a grande preocupação é audiência.  Cada uma monta o seu show e o promove como se fosse um programa de auditório. Os apresentadores parecem marionetes obrigados a seguir um script cujo conteúdo rendeu horas de reuniões entre os assessores políticos de cada candidato.


Os debates pela TV cairam na mesma armadilha criada pela Justiça Eleitoral para a propaganda eleitoral.  Para resolver protestos de partidos e candidatos foram criadas tantas leis, regras e normas que a campanha eleitoral tornou-se quase invisível.  O mesmo acontece agora com os debates ao vivo, nos quais as regras estão se tornando cada vez mais meticulosas e cada detalhe, inclusive os técnicos,  discutidos durante horas ao longo de negociações que duram semanas.


O acúmulo de regulamentações  reduz ao mínimo a espontaneidade tanto dos candidatos como dos cabos eleitorais e todos acaba parecendo funcionários burocráticos.  Estamos vivendo um paradoxo: se deixamos a propaganda correr solta e eliminamos as regras no debates,  a campanha torna-se imprevisível e provavelmente violenta, transmitindo insegurança, desconforto e incerteza.


A busca de ordem gerou a avalancha de regras e com isso as manifestações espontâneas acabaram se tornando cada vez mais raras. A campanha perdeu vivacidade, autenticidade e principalmente participação popular.  É a conseqüência do dilema clássico entre o caos e ordem.


O caos incomoda, transmite incerteza e insegurança, mas está associado à mudança, renovação e criação. A ordem gera tranquilidade, certeza e segurança, mas tende a provocar imobilismo, rotina e burocratização pela multiplicação de normas para preservá-la .


Pelo andar da carruagem, provavelmente teremos que fazer em breve outra escolha, além de selecionar governantes: como é que desejamos viver.  A regulamentação é causa e conseqüência do desenvolvimento de uma casta burocrática que sobrevive pela administração das regras, leis e normas.  Ela (a casta)  não tomará a iniciativa de mudar este estado de coisas porque se nutre dele. Assim, caberá  aos cidadãos propor algo diferente.