Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A crise na imprensa vista pelo cinema


O lançamento do filme Good Night, Good Luck (Boa Noite, Boa Sorte) não podia estar acontecendo em melhor momento, nos Estados Unidos. O filme biográfico sobre Ed Murrow, o mítico âncora dos telejornais da CBS americana nos anos 40, está levando para o grande público o debate sobre os rumos da imprensa, que até agora estava limitado aos jornalistas e comunicólogos.


O fato de Hollywood ter voltado seus holofotes para os problemas do jornalismo provocou também a recuperação de toda uma filmografia sobre a imprensa, começando pela recuperação do filme cult The Sweet Smell of Success (O Gosto Doce do Sucesso) produzido em 1957, pelo diretor Alexander Mackendrick, com base num roteiro do recém falecido escritor e jornalista Ernest Lehman. O filme mostra de forma implacávelmente crua e direta o poder exercido por Walter Winchell, o mais famoso colunista social na Hollywood dos anos 40.


Ed Murrow é considerado uma espécie de pai de todos os âncoras da televisão norte-americana e, por tabela, de todas as emissoras no resto do mundo que seguem a cartilha da CBS, ABC e NBC. Ele foi transformado também num paradigma da independência política no jornalismo por conta de sua confrontação com o senador Joseph McCarthy, mundialmente famoso por sua caça aos comunistas em Hollywood.


Mas o personagem central do filme dirigido por George Clooney, não tem a unanimidade entre os jornalistas norte-americanos. Murrow é acusado de ser o pai da arrogância jornalística, conforme afirma Jeff Jarvis, no blog BuzzMachine , especializado em notícias e análises sobre a mídia nos EUA.


Jarvis não está só nesta interpretação, pois ela é compratilhada igualmente pelo jornalista e professor Tim Porter, autor do blog First Draft  que aponta Murrow como o criador de uma era de auto-suficiência na televisão norte-americana que chegou agora ao fim, depois da humilhante saída de Dan Rather, o âncora da CBS protagonista de um escândalo de manipulação de informações no mais respeitado programa de jornalismo investigativo da emissora.


Walter Winchell foi o prototipo do jornalista arrogante nos anos 40 pois escrevia para o jornal Daily Mirror, da superpoderosa cadeia Hearst, cujo dono serviu de inspiração para o filme Cidadão Kane, outra obra crítica da prepotência dos grandes barões da imprensa norte-americana. Ele chegou a afirmar para seus 50 milhões de leitores diários que a ‘Democracia é um lugar onde todo mundo pode dar um pé na bunda de todo mundo, mas ninguém pode fazer isso com Winchell’.


Os críticos de Ed Murrow, reconhecem que ele teve um papel importante na resistência ao macartismo, mas afirmam que ao inaugurar a chamada era de ouro dos grandes âncoras da televisão norte-americana, ele decretou também a morte do jornalismo local e a pasteurização das notícias. Tudo isto foi colocado de novo na agenda pela estréia do filme de Clooney.


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