Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A crítica da mídia é um monopólio dos observatórios?


Até o início do século XXI os observatórios e organizações de monitoramento da imprensa eram de fato as únicas instituições que realizavam um acompanhamento sistemático da mídia impressa e audio-visual.


Mas a popularização do uso da internet, a partir do final da década de 90, deu aos leitores a possibilidade de também publicar opiniões críticas sobre o conteúdo editorial de veículos de comunicação como jornais, revistas, rádios e emissoras de televisão.


O resultado foi o aumento da pressão pública sobre a imprensa que reagiu de forma desigual em relação ao criticismo dos leitores. Alguns poucos veículos foram mais receptivos enquanto a maioria fechou-se em copas, alegando os mais variados motivos.


Com isto, os leitores passaram a procurar os observatórios como alternativa para expressar o seu criticismo em relação à mídia, como prova o aumento constante do número de comentários feitos à matérias e aos textos aqui no Observatório da Imprensa.


Nossa importância cresceu e com ela a necessidade reavaliar o papel dos leitores, ouvintes, telespectadores e internautas na crítica da mídia. Há três linhas possíveis: a da competição, a da independência total e a da parceria.


Na primeira, leitores e observatórios concorrem entre si procurando identificar o maior número possivel de erros, desvios ou meias verdades publicadas pela imprensa. Trata-se de uma opção duplamente equivocada. Primeiro, porque os leitores ganharão facilmente já que são mais numerosos e em segundo lugar, porque estarão criadas as condições para uma verdadeira caça às bruxas.


A independência total cria dois padrões de observação da mídia. Os observatórios adotam um conjunto de regras e rotinas buscando a credibilidade, enquanto a massa dos leitores age espontâneamente, sem normatização alguma e com um forte componente emotivo. Isto aumenta o trabalho de quem precisa de contextualização da informação porque torna obrigatória a consulta a várias fontes.


E por fim temos a parceria, onde leitores e observatórios colaboram entre si procurando um equilíbrio entre a quantidade e a qualidade das críticas ao trabalho da imprensa. Seria a solução perfeita se não fosse o difícil caminho para alcançá-la.


Apesar dos obstáculos, me parece a única viável porque se enquadra dentro da nova ecologia informativa criada pela internet, onde estamos irremediavelmente condenados à colaboração, incluindo neste processo também os próprios criticados.


Parece o óbvio, mas a realidade atual dá margem a algumas dúvidas. Há um forte ressentimento de uma parcela considerável do público em relação à imprensa, o que provoca surtos de radicalismo, especialmente em periodos eleitorais, quando as paixões políticas afloram com mais intensidade.


Mas a crítica da imprensa não visa destruir esta mesma imprensa porque sem informação diversificada e contextualizada é impossível o exercício da cidadania. O máximo que ela pode pretender é corrigir erros, distorções e omissões da mídia.


O aumento do número de canais e de veículos de informação sobrecarregou enormemente o trabalho dos observatórios, que são obrigados a limitar sua ação por questões administrativas e financeiras. A participação dos leitores pode atenuar estas limitações desde que ambas as partes assumam a postura de parceiros, com um objetivo comum: melhorar a informação pública da qual todos dependemos.


Quando se trata de crítica da mídia, a grande diferença entre os observatórios, como o nosso, e o público está no grau de transparência. Nossa responsabilidade é sermos totalmente translúcidos para que nossa missão possa ter a necessária credibilidade, o que não é sinônimo de unanimidade. Já o público não tem esta obrigação.


Na medida em que os leitores/ouvintes/telespectadores/internautas passaram a ser também publishers de weblogs na internet, eles tornaram-se potencialmente observáveis, ou seja, são objeto de críticas, o que implica responsabilidades dentro da nova ecologia informativa contemporânea.


O que nos coloca todos na mesma obrigação de ter que conviver com a crítica, o que é um fator novo na relação entre o público, os observatórios e a imprensa.