Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

A imprensa e a deterioração da imagem policial

O envolvimento de policiais e ex-policiais no noticiário sobre crimes de repercussão nacional deixou de ser uma exceção para transformar-se quase numa rotina, tal a freqüência com que ocorre. Dois casos super-badalados como o do goleiro Bruno e da advogada Mércia Nakashima têm na lista dos principais suspeitos indivíduos direta e indiretamente associados às policias militares do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais.


 


E quando as policias civil e militar começam a freqüentar com preocupante assiduidade as páginas policiais dos jornais é inevitável um aumento considerável na já alta taxa de insegurança do cidadão que paga impostos para manter as instituições que, por dever constitucional, deveriam protegê-lo.


 


Os casos que ocupam no momento o topo da agenda das editorias de polícia de quase todos os veículos da imprensa não são uma exceção. Em abril, a polícia de Pernambuco expulsou de uma só vez, 42 integrantes da PM e 12 agentes da policia civil do estado, todos acusados de atuar em grupos de extermínio há pelo menos cinco anos.


 


Nestes e em vários outros casos cobertos pela imprensa, destaca-se o fato de que civis estão contratando policiais da ativa e da reserva para eliminar desafetos, concorrentes, ex-maridos e ex-mulheres. Em setembro do ano passado, na Bahia, cinco policiais foram expulsos porque se envolveram num crime onde o boxeador Popó foi mencionado como um dos possíveis mandantes.


 


Em São Paulo já são dois os casos recentes em que oficiais da Policia Militar estão envolvidos no assassinato de motoboys. Em maio, dois comandantes de batalhões da PM paulista foram demitidos por omissão no caso da execução do motoboy Alexandre Menezes dos Santos. Um mês antes, outro episódio quase idêntico também terminou com a morte de um motoboy capturado por nove PMs, depois de ser levado para um quartel da corporação.


 


A imprensa tem sido muito cautelosa até agora na cobertura do envolvimento de policiais em crimes, alguns dos quais hediondos, como aprece ser o caso da morte da ex-amante do goleiro Bruno, do Flamengo. Ela não aprofunda a análise das causas da cumplicidade de policiais com o submundo do crime. Mas já está na hora dos repórteres policiais irem mais fundo nesta questão porque ela envolve situações delicadíssimas.


 


A freqüência com que as “maçãs podres” aparecem nos quartéis e delegacias mostra que o problema já alcança a estrutura policial do país. Parece um “câncer” que já está chegando a fase da “metástase”. Reportagens investigativas podem lançar mais luz sobre este problema e dar elementos para que as pessoas possam formar opiniões sem cair em passionalismos, tanto contra como a favor.


 


Este é o tipo de assunto onde a imprensa pode assumir um papel protagônico como defensora do interesse público, já que é todos nós, cidadãos, reconhecemos a necessidade da existência de uma polícia isenta de corruptos, corruptores e matadores de aluguel. A imprensa tem uma oportunidade histórica de recompor a sua interação com os leitores, ouvintes e telespectadores oferecendo informações objetivas para que o publico possa tomar decisões numa questão tão delicada como esta.


 


Em vez de travar uma corrida absurda na exploração dos fatos mais escabrosos de crimes envolvendo policiais e ex-policiais visando pontos de audiência e de vendagem em bancas, a imprensa poderia, e deveria, ver que esta exploração só contribui para destruir ainda mais a imagem da polícia. O que é necessário agora é partir para atitudes propositivas, visando uma cirurgia radical na estrutura das instituições públicas encarregadas da segurança do cidadão.


 


Quase todos os especialistas em questões de segurança afirmam que o êxito no combate ao crime organizado passa pela recomposição da imagem e da credibilidade policial. É dinheiro posto fora quando uma polícia corrupta e criminosa caça delinqüentes. A única diferença passa a ser o uniforme pois a cultura da violência é a mesma. E a imprensa é um fator chave na criação de uma consciência nacional sobre a gravidade da crise na polícia brasileira.