Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

A “obamização” globaliza a internet como ferramenta eleitoral

As eleições presidenciais norte-americanas acontecerão somente em novembro, mas na internet o senador democrata Barack Obama já pode ser considerado o ganhador tal a diferença que acumula em relação ao republicano John McCain.


 


Uma diferença que continua a aumentar não apenas dentro dos Estados Unidos como noutros países indicando que a globalização do pleito norte-americano já é um fato para lá de concreto, principalmente entre o eleitorado com menos de 30 anos.


 


Não é novidade o fato de Obama ser o candidato que melhor conseguiu incorporar o espírito Web na sua campanha para a Casa Branca.  Mas a dimensão do fenômeno está atropelando os especialistas da internet e os cientistas políticos.


 


Ai vão alguns dados publicados na edição do jornal The Washington Post do dia 26 de junho:


          Obama tem sete vezes mais adeptos declarados do que John McCain entre as comunidades virtuais do site MySpace, uma das mecas da chamada Web social, ou Web 2.0;


          No FaceBook, outro site de comunidades virtuais, cujos membros são majoritariamente jovens com menos de 30 anos , o número de adeptos de Obama (1,04 milhão) é 2,5 vezes maior do que no MySpace (401 mil).


          No site YouTube, Obama tem cinco vezes mais vídeos publicados que McCain, com uma audiência ainda mais impressionante: 53,4 milhões de visitantes contra 3,7 milhões de internautas que visualizaram vídeos do candidato republicano.


 


Estes números têm uma explicação. E ela pode ser encontrada nas pesquisas de opinião que começam a pipocar a medida que a Web passa a ser usada cada vez mais como ferramenta eleitoral e que aumentam as indagações sobre o comportamento do eleitor jovem nos Estados Unidos.


 


A empresa de relações públicas Waggener Edstrom Worldwide e o Pew Internet & American Life Project divulgaram nos últimos sete dias duas pesquisas mostrando que a internet está conseguindo reaproximar os jovens da política, ao introduzir novos comportamentos e valores.


 


A Waggener Edstrom constatou que 64% dos norte-americanos com menos de 35 anos estão se informando sobre política por meio da Web. Já o projeto Pew afirma que inéditos 46% dos eleitores de todas as idades estão buscando na internet os insumos para decidir em quem votar. É a primeira vez na história das eleições norte-americanas que a televisão e os jornais perdem o monopólio na formação de opiniões eleitorais.


 


A pesquisa entre os jovens apontou uma esmagadora maioria (76%) preferência pela informação virtual considerada pelos entrevistados como menos tendenciosa que a divulgada pela TV ou publicada pelos jornais dos Estados Unidos.


 


Outra constatação surpreendente. Enquanto nos pleitos anteriores, o índice de participação dos norte-americanos na campanha eleitoral não chegava aos 10% do total do eleitorado, hoje, a confiar nos dados da Waggener, o percentual passa dos 24% . Já o Pew garante que 12% dos jovens com menos de 29 anos postaram pelo menos um comentário ou texto em sites e weblogs.


 


Está caindo por terra o mito da omissão e comodismo político da geração com menos de 35 anos. São cada vez maiores as evidências de que o problema não era a política, mas a falta de instrumentos de participação efetiva à disposição dos eleitores jovens.


 


A participação dos eleitores por meio da Web está quebrando também o monopólio que os partidos tinham sobre os rumos das campanhas. Pela primeira vez eleitores independentes interferem na agenda política dos candidatos como fez o ex-diretor de cinema em Hollywood, Robert Greenvald, que produziu, por conta própria, um vídeo mostrando contradições do candidato John McCain.


 


Ele não é o único de uma leva de free lancers que estão inundando o YouTube com produções independentes, pró e contra Obama. Vários comentaristas questionaram a independência de muitos vídeos, mas até agora não foi provado nada.


 


Até no Google, Obama lidera fácil como o nome mais mencionado em buscas na Web. Segundo Erick Qualman, do site SearchEngineWatch, especializado no estudo de tendências em buscas na Web, Brack Obama supera John McCain por na proporção de três pesquisas para cada uma do candidato republicano.


 


Os resultados do Google ajudaram os estrategistas do partido Democrata a resolver o dilema sobre como chamar o candidato nos cartazes eleitorais: Barack ou Obama. A palavra Obama foi usada 3,5 vezes mais do que Barack nas pesquisas na Web por eleitores.


 


O site Google Trends, na própria Google, revela dados indicando que a globalização da campanha eleitoral norte-americana na internet já é um fato. E seis países (quatro europeus mais o Canadá e Austrália), as eleições americanas ocupam na Web local quase tanto espaço quanto os políticos nacionais, nos comentários e blogs de independentes. Em todos estes paises, Obama ganha de McCain na proporção de 4 comentários para um sobre o candidato republicano.


 


Estes dados mostram uma tendência cuja intensidade pode variar, mas não há a menor sombra de dúvida de que estamos no limiar de um novo fenômeno que provavelmente mudará muitas de nossas percepções sobre participação cidadã, campanhas eleitorais e principalmente sobre os jovens e a política.


 

Nós também teremos eleições este ano e é bem possível que as surpresas se repitam por aqui, principalmente porque a mídia convencional está mais preocupada com os candidatos do que com os eleitores, como já é tradição.