Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A polêmica sobre a necessidade de um código de conduta para os blogs


Alguns dos mais lidos blogs dos Estados Unidos passaram a promover nas últimas semanas a proposta de criação de um Código de Conduta e de um selo de bom comportamento para os habitantes da chamada blogosfera.


A polêmica foi levantada por Tim O’Really, autor do blog Radar, que começou a redigir um código de conduta em reação à comentários mais ácidos postados por seus leitores. O tema foi imediatamente levado para a primeira página do The New YorkTimes de onde saltou para os bares e restaurantes freqüentados por jornalistas em Manhattan.


O problema não é exclusivo dos americanos e aqui no Brasil também não são poucos os autores de blogs que defendem a adoção de um código de boas maneiras para punir os comentários que apelam para a baixaria, agressões e o que é pior, para a difamação.


É um tema que precisa ser discutido longamente e não é num post que será definido, pois é uma questão muito complexa. Vou dar a minha posição esclarecendo desde já que não pretendo ser juiz e nem muito menos o dono da bola nesta polêmica.


Para início de conversa, tudo indica que a efetividade de um código de condutas na Web é muito menor do que no mundo físico porque, no terreno virtual, as variáveis são muito maiores pela presença de grandes massas de informação.


Na web, a simultaneidade de milhares de fontes de informação permite uma enorme diversidade de abordagens e contextos, o que nos obriga a deixar de lado os maniqueísmos clássicos do tipo bom/mau, claro/escuro, justo/injusto e moral/imoral.


As generalizações são, portanto, muito arriscadas, mas quando a referência são casos individuais, vale a autonomia do autor que pode decidir o que considera aceitável ou inaceitável em seu weblog. É uma decisão individual inquestionável que pode ou não ser compartilhada por outros autores.


Foi justamente um desastrado intento de generalizar condutas na blogosfera que levou o The New York Times a entrar na mira de blogueiros, como o também norte-americano Jeff Jarvis, que inclusive trabalha para uma empresa do gurpo Times.


O NYT afirmou que a ‘blogosfera pode ser um ambiente irritante e desagradável’ ao descrever a preocupação de Tim O’Really, apoiada também por outros notáveis como o criador da Wikipedia, Jimmy Wales, e David Weinberger, um veterano guru da Internet.


Foi o suficiente para que o Código de Conduta passasse a ser duramente criticado por um grande número de blogueiros, em sua maioria jovens, que o comparam a ato de censura ou limitação da liberdade de expressão.


Esta não será a primeira e nem a última vez que a palavra censura é associada a uma polêmica como esta. Tampouco importa investigar se ela foi usada correta ou incorretamente. O importante é levar em conta que os comportamentos no interior da blogosfera começam a gerar uma espécie de conflito de gerações.


Além disso é necessário constatar que o autor de um weblog, por menor que seja o seu número de visitantes diários, torna-se inevitavelmente uma figura pública, e portanto sujeita às vantagens e desvantagens desta condiçãpo. Que o digam os jogadores de futebol e os atores de novelas.


Num ambiente aberto como a Web, as regras de comportamento só funcionam se forem o resultado de um consenso majoritário, já que a unanimidade é impraticavel. O risco assumido por Tim O´Really e seus seguidores é muito grande e talvez acabe sendo um tiro no pé, o que é lamentável porque pode gerar ressentimentos, num momento em que a continuidade da discussão é mais necessária do que nunca.