Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A Voz do Brasil versão internet

A impopular Voz do Brasil transmitida por uma cadeia nacional de rádio, há 75 anos,  acaba de ganhar uma versão muito mais sofisticada e moderna chamada Portal Brasil, que tentará criar na Web uma comunicação direta entre o Governo e o cidadão.


 


O novo portal estreou no dia 3 de março depois de quase dois anos de preparação na Secretaria de Comunicação, do ministro Franklin Martins. A proposta é ambiciosa pois o novo portal pretende disputar a atenção do público junto outros portais de organizações jornalísticas nacionais privadas.


 


O lançamento foi ignorado olimpicamente pela mídia convencional num claro boicote à iniciativa do governo. Apenas registros burocráticos, mostrando que a imprensa privada aposta no silêncio como arma para neutralizar as tentativas da administração Lula de romper o cerco da mídia. 


 


Formalmente, o Portal Brasil adota um design muito parecido com os demais e sem grandes ousadias visuais. O grande diferencial seria o conteúdo noticioso mas os editores ainda não conseguiram se libertar do tão detestado estilo Voz do Brasil, porque os textos são formais, quase burocráticos. 


 


Para que o novo portal do governo rompa com o seu antecessor radiofônico seria necessário moldar o conteúdo informativo aos princípios da Web baseados na interatividade com o público e em redes sociais de usuários.


 


O problema é que tanto uma quanto outra tendem a alterar radicalmente o funcionamento e a estrutura de decisão no Portal Brasil. A administração dos comentários de leitores vai exigir um grande esforço dos editores e se o volume aumentar, o que é provável, a gestão descentralizada e horizontal se tornará obrigatória.


 


Como qualquer site na Web, o Portal Brasil precisará incentivar a formação de redes de usuários, porque sem elas, o site não passará de um quadro de avisos, uma página de acessos a serviços ou um boletim de noticiais oficiais. Formar redes na Web é bem diferente do que cadastrar usuários, porque implica interatividade, transparência entre outros fatores. E a administração pública, tradicionalmente, não prima pela transparência.


 


Ainda há muita coisa a ser discutida e analisada no Portal Brasil. Não dá para fazer uma avaliação definitiva porque ainda é um processo em desenvolvimento e não dá para esperar que o site esteja perfeito. É óbvio que muitos bugs ainda estão sendo corrigidos e outros ainda vão aparecer.


 


Mas o tema que merece ser debatido é o da comunicação direta entre governo e o público. Na Voz do Brasil ela não funcionou desde a criação do programa em 1935, durante o governo de Getúlio Vargas. Também não deu resultados palpáveis nas várias tentativas de implantação de uma televisão estatal.


 


As razões dos insucessos são várias, mas uma delas pode ensinar algo para o Portal. Tanto o programa radiofônico como os projetos de televisão estavam baseados na emissão unidirecional de mensagens informativas, seguindo os interesses do governo de turno. Envolvimento zero do público.


 

As redes sociais na Web abrem uma janela de participação do usuário do Portal e é através dela que o público pode se tornar um protagonista ativo na nova experiência. Não se trata de um objetivo fácil de ser alcançado porque afinal trata-se de uma página do governo e portanto o potencial e a diversidade de conflitos são enormes. Mas aí vale a máxima, ruim com eles, pior sem eles.