Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Ameaça de gripe aviária é real. A mídia está ajudando o brasileiro a evitar a pandemia?

O jornal Valor Econômico de hoje traz como principal assunto o efeito devastador que a gripe aviária pode causa na economia mundial. Além dos milhões de mortos que a mutação do vírus provocaria entre os humanos. No caso de uma pandemia ‘relativamente branda’ na Ásia, segundo a estimativa do Banco de Desenvolvimento da Ásia que o jornal reproduz, seriam 3 milhões de pessoas. Uma pandemia ‘relativamente branda’, no caso, atingiria 20% da população, com 0,5% de vítimas fatais.

Outros números trazidos pelo Valor projetam a tragédia, com base no que ocorreu com o ‘surto moderado’ da Sars (síndrome respiratória aguda grave), também na Ásia, há dois anos: 800 pessoas morreram, com prejuízo de US$ 18 bilhões, ou 0,6% no PIB do Leste Asiático.

Os números reproduzidos pelo Valor Econômico de hoje estão tendo ampla repercussão nos sites de países vizinhos e, em parte, confirmam as previsões de David Nabarro, o responsável pelo combate à gripe aviária na ONU. Nabarro previu, em setembro passado, segundo registra o site do serviço em português da BBC, que ‘um novo surto da doença pode matar entre 5 milhões e 150 milhões de pessoas’ e que ‘as chances de o vírus que atualmente atinge aves na Ásia sofrer uma mutação e passar para os humanos são muito altas’.

David Nabarro é médico como o secretário da Saúde do Estado de São Paulo, o secretário da Saúde do Estado de São Paulo, Luiz Barradas Barata. Nabarro, que foi deslocado da OMS (Organização Mundial da Saúde) para a coordenação do trabalho a ser desenvolvido em todo o mundo, no caso da pandemia ocorrer. Ele diz que, na sua forma atual, o vírus não é transmitido facilmente de uma pessoa para a outra. Tudo muda de figura, entretanto, se o vírus sofrer uma mutação. Já o secretário paulista disse aos telejornais de São Paulo, na semana passada, que ‘a possibilidade de termos uma contaminação, de uma pessoa se infectar com o vírus da gripe aviária, se dará no caso dele entrar em contato muito próximo com uma ave viva. Comer carne de frango, comer galinha, não causa gripe aviária’. Junto com as declarações tranqüilizadoras, Barradas Barata soltou uma frase de efeito reproduzida pela revista Veja desta semana: ‘O frango teria de espirrar no rosto da pessoa’.

Já se sabe que patos, marrecos e maçaricos que migram da América do Norte – onde o vírus foi identificado – para a América do Sul fazem escala no Rio Grande do Norte e no Rio Grande do Sul.

Médicos da rede pública de São Paulo, segundo informação que chegou a esse blogue, estão de sobreaviso – e acompanham casos de aves que morrem sem motivo aparente. Foi esse estado de alerta que provocou o destaque dado à morte de um galo no interior de São Paulo nos dois últimos dias.

Ontem, no Jornal Nacional, o caso do galo puxou a reportagem informando que exames de laboratório, realizados em Campinas, comprovaram que o bicho não morreu de gripe aviária. Na semana passada, os jornais e a televisão mostraram que, também em São Paulo, alguns remédios anti-virais desapareceram das farmácias por causa do estoque preventivo de parte dos consumidores. Os remédios comprados não garantem completamente a imunidade contra o vírus, uma vez que ele é mutável. A mesma paranóia de parte da população da maior cidade do país já afetou outras grandes cidades do mundo, como Paris, por exemplo.

Outra informação do Jornal Nacional de ontem é a de as granjas brasileiras estão capacitadas para se defender do vírus, mas os pequenos criadores – responsáveis por 30% da produção nacional – encontram-se completamente vulneráveis.

O mesmo Ministério da Agricultura que não evitou a aftosa, segundo o Jornal Nacional, está acompanhando as rotas migratórias de patos, marrecos e maçaricos que migram da América do Norte, onde o vírus já chegou, pela costa e são monitorados no Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul. As andorinhas saem do Canadá e Estados Unidos, passam pela América Central, Venezuela e Colômbia. Depois de 60 dias de vôo alcançam o interior de São Paulo.

Outro motivo tranqüilizador da reportagem é que, no caso de uma pandemia, o governo brasileiro vai comprar nove milhões de kits de tratamento contra a gripe aviária, suficientes para atender 90 milhões de pessoas.

Diante do noticiário esporádico que tende a se repetir com prováveis casos de aves que morreram por causa da gripe, é aconselhável que se recorra à história para lembrar que epidemias de gripe letal entre os seres humanos repetem-se entre três e quatro vezes a cada século. A gripe do frango enquadra-se como ameaça por causa de um de seus vírus, o H5N1, que é altamente contagioso e já matou mais de 60 pessoas na Ásia nos dois últimos anos.

Diz o serviço em português da BBC: ‘um novo tipo de vírus capaz de causar uma epidemia poderia surgir caso o vírus da gripe do frango se combine com o vírus que causa a gripe em humanos. Isso poderia acontecer se uma pessoa for infectada com ambos os vírus ao mesmo tempo. Teme-se que esse novo vírus possa se espalhar com maior facilidade e muito mais rápido, matando um grande número de pessoas, já que o sistema imunológico do ser humano ainda não está preparado para lidar com essa infecção’.

Pergunta-se:



A população brasileira está sendo bem-informada pela mídia sobre os riscos da doença?


Que conselhos práticos, além de evitar um espirro de frango no rosto, poderiam ser dados à população para que ela ajude a combater a eventual chegada do vírus no Brasil?


A capacidade de mutação do vírus pode alterar os meios que ele utiliza para se propagar?



Na semana passada, os jornais trouxeram a história de duas pessoas da mesma família, na Indonésia, que foram contaminadas pelo vírus depois de ter comido carne de frango infectada. O caso desapareceu na mídia, mas, se for verdadeiro, como fica a orientação de que é preciso sentir o espirro de um frango no rosto?


Quais outros sintomas podem ajudar na distinção entre a gripe aviária da comum?


Quais regiões brasileiras estariam mais ameaçadas pelo vírus?


Quais as possibilidades do vírus migrar da área rural para as grandes cidades?


Quais as primeiras providências que o cidadão deve tomar diante da suspeita da gripe?


A quem ele deve recorrer?


Quais são os sintomas da gripe aviária nas pequenas criações?


Sem aumentar as chances da paranóia estourar no Brasil a qualquer momento – bastaria, para isso, a confirmação do primeiro caso de gripe aviária no país – a mídia poderia investir mais em questões como essas para esclarecimento da população.