Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Apoio maciço da imprensa a Obama levanta dúvidas nos Estados Unidos

A corrida da imprensa norte-americana em direção a Barack Obama deixou algumas perguntas no ar.  O candidato democrata teve duas vezes mais apoio entre jornais do que John McCain (234 contra 105), mas a preferência não parou aí.


 


Segundo um levantamento da organização Center for Media and Public Affaris (CMPA), as noticias transmitidas pelas quatro principais redes de televisão dos Estados Unidos mostraram um viés favorável a Obama em 65% dos casos, contra 35% favoráveis a McCain.


 


A pesquisa monitorou o destaque dado às qualidades positivas ou negativas dos dois candidatos por meio das imagens transmitidas em 979 notícias ligadas à campanha eleitoral, num total de 33 horas e 40 minutos de programação nas redes ABC, CBS, NBC e Fox.


 


A tendência pró Obama na mídia foi detectada também pelo Projeto pela Excelência no Jornalismo que apontou uma esmagadora maioria de notícias desfavoráveis ao candidato republicano desde o fim das grandes convenções partidárias, em agosto.


 


Alguns jornais como o The Los Angeles Times chegara a extremos que banir vídeos desfavoráveis a Obama — como o de um jantar em 2003, com líderes palestinos, no qual o senador democrata fez críticas a Israel.


 


O empenho da mídia em alinhar-se a Obama já levou muita gente a se perguntar sobre o porquê desta opção. A grande imprensa norte-americana sempre mostrou uma tendência liberal, mas a intensidade de seu envolvimento na campanha de 2008 parece ter mais a ver com uma tentativa de distanciar-se do governo Bush do que com uma admiração pelo senador negro por Illinois.


 


McCain e sua vice Sarah Palin bem que facilitaram o liberalismo de jornalistas e intelectuais pelas suas trapalhadas políticas e pela claudicante estratégia eleitoral . O clima do “já ganhou”  era visível no noticiário dos jornais, bem antes do dia das eleições.


 


A aposta da imprensa ainda está por ser mais bem analisada porque ela parece uma decisão arriscada por vários motivos. O principal deles é que Obama continua uma grande incógnita do ponto de vista político. Seu passado nem sempre se pautou pela cartilha da grande imprensa de Washington e Nova York.


 


Está claro que a maioria da população dos Estados Unidos cansou de George Bush e de suas guerras. O desejo de mudança é palpável, mas as opiniões se dividem quando a discussão é sobre o tipo de mudança a ser concretizada.


 


Obama pode ser um excelente escudo da elite norte-americana contra os inevitáveis protestos que vão acontecer depois das eleições, quando o peso da recessão cair sobre a população, principalmente da classe média para baixo.


 


Mas há também outra questão menos visível. Os grandes jornais norte-americanos podem estar desconfiados da crescente influência que o pessoal da internet passou a ter junto a Barack Obama. Isto foi nítido desde o início da campanha, quando o candidato democrata só conseguiu se firmar depois que os ativistas usaram as novas tecnologias online para arrecadar donativos.


 


Depois disto vieram as grandes empresas do Vale do Silício, na Califórnia, que apostaram fundo em Obama, como foi o caso da Google, para citar apenas o caso mais conhecido. É toda uma nova geração de protagonistas do jogo econômico que começa a ocupar espaços em Washington, um território onde os grandes jornais norte-americanos sempre tiveram um lugar privilegiado.