Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

As consequências políticas do terremoto chileno

O país ainda tenta se recuperar do trauma humano e econômico causado pelo terremoto do dia 27/2 , quando já começam a aparecer os sinais de que a tragédia também passou a ser um fato político da maior relevância.


 


A imprensa brasileira e também mundial carregou nas tintas na cobertura da presença do exército chileno nas ruas das principais cidades atingidas pelo terremoto, Foto da AP publicada pelo Diario Catarinensenuma ação que marca a primeira grande intervenção dos militares na vida do país desde o fim formal da ditadura do general Augusto Pinochet, em 1990.


 


Esta nova saída dos quartéis não tem objetivos diretamente políticos como aconteceu no golpe de 1973, mas as forças armadas chilenas ganharam uma janela de visibilidade criada por uma tragédia nacional, onde o seu papel de mantenedora da ordem foi mais uma vez colocado em primeiro lugar.


 


A ocorrência de saques a lojas e supermercados danificados pelo tremor criou na população e, em especial, entre os comerciantes, o clamor por segurança, o quer criou o contexto favorável à presença militar, com imagens que não deixam dúvidas sobre  o rigor da intervenção.


 


Isto tudo poucas semanas depois de uma eleição presidencial que marcou a volta de um candidato conservador ao palácio de La Moneda. O direitista light Sebastián Piñeira vai agora herdar um país devastado, depois do Chile ser considerado durante décadas como um caso de sucesso em matéria de políticas econômicas neoliberais.


 


As dificuldades do novo presidente serão enormes e ele vai necessitar de muito apoio para enfrentar a recuperação dos danos causados pelo terremoto, após a sua posse no dia 11 de março. Apoio que os militares já se apressaram a dar, preenchendo o vácuo deixado pelo colapso das estruturas administrativas e de segurança público nas regiões mais atingidas, ao sul de Santiago.


 


Tudo isto cria um contexto onde Piñeira não terá muita margem de manobra para burilar sua imagem de conservador light porque o trauma do terremoto exigirá soluções traumáticas e enérgicas, justamente dois adjetivos que a direita chilena cultivou ao longo dos quase 20 anos da ditadura Pinochet.


 

É importante abrir o foco da análise e ver que o pêndulo da política latino-americana está outra vêz movendo-se em direção ao centro e à direita, após um período onde a chamada esquerda deu as cartas. A votação de Piñeira no Chile não foi propriamente uma vitória dos partidos que o apoiaram, mas uma derrota da Concertação Democrática, que governou o país nos últimos 20 anos e cuja imagem estava muito desgastada junto a opinião pública.