Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

As duas grandes tendências no mundo dos negócios jornalísticos


O jornal impresso que as pessoas recebem de manhã na porta de casa já quase uma relíquia para a grande maioria das indústrias jornalísticas que se transformaram em impérios da comunicação graças às edições em papel.


Contrariando as previsões pessimistas sobre a sobrevivência de grupos como The New York Times, Guardian, O Globo, The Washington Post e The Dallas Morning News , eles hoje passaram a se definir mais como produtores de serviços informativos. O papel e as rotativas já não constam mais do discurso dos principais executivos da indústria dos jornais.


Trata-se de uma mudança importante porque ela trouxe, como consequência, uma extaordinaria diversificação dos canais de informação oferecidos ao público. Ao comemorar 125 anos de existência de seu jornal, há duas semanas, o diretor do diário americano The Dallas Morning News Jim Maroney foi curto e grosso: ‘Nós não somos mais uma empresa de jornais. A edição impressa é apenas um dos nossos produtos’.


Outras indústrias jornalísticas — como o poderoso grupo News Corp., do multimilionário australiano Rupert Murdoch, e Grupo Folha, no Brasil — têm se mostrado mais lentas na transição da cultura do papel para a da segmentação de produtos informativos em plataformas multiplas.


Começam a se esboçar duas tendências: a dos que apostam tudo na multiplicidade de produtos e a dos que colocam suas fichas no nicho da informação impressa de alta qualidade. No primeiro caso estão empresas como o New York Times e o Dallas News , cuja ‘cara’ está hoje muito mais associada aos seus respectivos portais na web do que às primeiras páginas das edições impressas.


Por seu lado, os jornais de Murdoch e a própria Folha de S.Paulo parecem convencidos de que o papel terá vida longa como marca das respectivas empresas, e investem na construção da imagem de provedores de informação qualificada. O grupo News Corp. é hoje o principal defensor do acesso pago à internet, uma estratégia que parece mais preocupada com a valorização dos seus produtos offline do que na rentabilidade dos serviços online.


A reinvenção das empresas jornalisticas mais atentas às transformações provocadas pela emergência da web como canal de comunicação está sendo feita por meio de uma gigantesca operação de mudança de valores entre os encarregados da produção de conteúdos informativos.


O New York Times, por exemplo, criou um sistema de consultas aos seus usuários que os transformou quase em consultores editoriais. Duas vezes ao mês, o jornal envia questionários aos seus usuários na web com perguntas que vão desde consultas sobre a melhor forma de redigir uma notícia, o posicionamentos de editoriais, como cobrir ou não um determinado tema.


O Times está criando também a sua rede social para captura de informações, chamada extra-oficialmente de News.Me (Minhas Notícias). O projeto, que deve ser lançado até o fim do ano, é na verdade uma espécie de Orkut formado por jornalistas amadores, em que os participantes são fornecedores informais de notícias.


A personalização no fornecimento de notícias pela web é uma tendência que vem se consolidando no mercado de informações desde 2008, quando o sistema de buscas Google deu aos leitores do serviço Google News a possibilidade de armarem o seu próprio cardápio informativo.


A oferta de produtos informativos diversificados obriga também as empresas jornalísticas a valorizar muito mais os seus usuários porque eles serão a fonte primordial de notícias, agora não mais produzidas apenas com o material de repórteres, correspondentes ou fornecido por fontes governamentais, corporativas e ONGs.


Jim Maroney, do Dallas Morning News, um veterano jornalista cuja trajetória foi toda ela com base na informação impressa, admitiu numa carta dirigida à Redação: ‘Nós tinhamos um produto só e queriamos que ele servisse a todos os nossos leitores. Nós eramos como Henry Ford, criador da máxima `você pode escolher o carro que quiser, contanto que seja preto´. Agora nós queremos entregar o jornal que você quiser, no formato que você desejar e na hora em que você precisar’.


O projeto News.Me, do NYT, vai ainda mais longe porque incorpora o leitor como produtor de informações. Uma atitude como esta era considerada herética até bem pouco tempo atrás por todos os executivos de indústrias jornalísticas.


Mas toda essa reengenharia corporativa no mundo da imprensa ainda esbarra numa grande dúvida. Como os novos projetos se tornarão sustentáveis no médio e longo prazos, num ambiente informativo onde a grande incógnita é o comportamento do público?