Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Mobilidade informativa e as novas estratégias editoriais

Os mais recentes estudos dos hábitos de acesso às notícias mostram uma preferência cada vez mais acentuada pelo uso de celulares inteligentes (smartphones) e tablets como veículos para informação pública. Um estudo da Associação Nacional de Jornais dos Estados Unidos (NAA, na sigla em inglês) mostrou um crescimento de 18% no uso de equipamentos móveis para acessar notícias, índice superior ao de todas as demais plataformas (impressos, rádio , telejornais e até mesmo o acesso via computadores fixos ou notebooks).

O resultado consolida a preocupação com a mudança dos padrões editoriais adotados pela maioria das empresas jornalísticas do mundo, inclusive a brasileira, que, apesar de não divulgar dados tão precisos como nos EUA, enfrenta o mesmo dilema. A tendência à atualização noticiosa com o uso de smartphones e tablets aumenta a urgência na definição de estratégias editoriais baseadas na prioridade dada à notícia dura (hard news) ou à contextualização interpretada.

Gera também a introdução de um item novo nos procedimentos de produção e publicação de notícias: o tempo de leitura, audição ou visualização. Até agora, o primeiro parágrafo de uma notícia escrita ou a primeira imagem concentravam a atenção dos editores de notícia porque eram considerados os grandes “ganchos” para chamar a atenção do público. Agora, sites como Medium e Slate começaram a publicar o tempo médio de leitura ou visualização num quadro próximo ao título principal. Com este dado, os editores online pretendem ajudar o leitor, ouvinte ou telespectador a achar novos nichos de tempo para acessar notícias.

A notícia dura é menos afetada pela questão tempo do que os conteúdos contextualizados publicados por páginas informativas online. A notícia dura é a principal matéria-prima jornalística dos equipamentos móveis por causa das limitações da tela de exibição e pelo fato de o usuário estar quase sempre fazendo outra coisa enquanto acesso um noticiário online. Se a notícia dura cumprir a sua função de levar o interessado a procurar mais dados sobre o tema noticiado, aí o tempo passa a ser um fator de estímulo ou desestímulo da leitura, audição ou visualização.

Os conteúdos contextualizados (informação) são o ponto forte das páginas online construídas pela leitura em computadores fixos, onde o usuário sofre menos a influência da divisão de atenções. Se ele tiver pouco tempo disponível, será atraído para a leitura de um texto curto, o que gera um outro dilema: como evitar que ele pare no meio a abandone tudo ou deixe de ver outras informações importantes, simplesmente pela pressa?

A preferência pela mobilidade informativa vai obrigar os jornalistas a acelerar a implantação da estrutura não linear que se caracteriza basicamente pela produção de blocos de dados relacionados a uma mesma notícia – e que serão acessados segundo os interesses e necessidades do usuário. Será uma forma de interligar o material publicado em smartphones e tablets com o inserido em páginas web acessadas preferencialmente por usuários de computadores fixos.

A formatação de uma notícia online deixa de ser feita a partir de padrões fixos estabelecidos em normas redacionais para tomar em conta, prioritariamente, o contexto do público. Isso muda a rotina nas redações porque o jornalista, ao escrever uma notícia, tem que ter um olho na relevância, atualidade, pertinência bem como na credibilidade do material a ser publicado, e o outro olho nos hábitos e comportamentos de quem vai ler. Nos jornais impressos e na televisão comercial isso não acontecia de uma forma tão intensa e constante.

Outra constatação da pesquisa revela que as mulheres são o grande fenômeno novo no acesso as notícias online. Nada menos que 92% das mulheres norte-americanas entre 25 e 34 anos acessam notícias por tablets e smartphones, formando o grupo etário com o crescimento mais rápido (38% ao ano) entre todos os analisados pelos pesquisadores. Trata-se de um fenômeno surpreendente porque o público feminino, especialmente as mulheres mais jovens, era pouco representativo na audiência global.