Wednesday, 17 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Caso do CD parece sessão de CPI

Novos lances do triângulo não propriamente amoroso entre Rogério Buratti, a sua ex-mulher Elza e a Folha de S.Paulo [leia, de baixo para cima, as duas notas anteriores].

Na edição de hoje, Buratti reaparece criticando outra vez o jornal porque o repórter Rogério Pagnan levou a Elza um CD das suas conversas telefônicas grampeadas por ordem judicial.

‘Não é um procedimento adequado procurar… a ex-mulher de alguém com esse objetivo’, julgou. O objetivo, na versão da Folha, seria o de ‘identificar personagens e códigos usados pelo ex-secretário de Governo de Antonio Palocci Filho nas gravações’. Para Buratti, o que o jornalista fez não foi ‘eticamente correto’.

Mas considerou um ‘atenuante importante’ a alegação do xará de que, antes de entregar a Elza a integral dos diálogos grampeados, se ofereceu para deles expurgar as passagens que, na CPI dos Bingos, Buratti viria a chamar ‘pecados pessoais’. A gentileza teria sido dispensada.

Por isso Buratti hoje diz que ‘se fosse falar de novo [sobre o assunto] não falaria do mesmo jeito’ [como fez na CPI].

A novela podia ficar por aí, na base do ‘entre mortos e feridos, todos se salvaram’. Mas a Folha resolveu ir em frente, esfregando lixa na pele do Rogério grampeado e passando óleo de nenê na pele do Rogério repórter.

Primeiro, tornou a publicar a declaração de Elza que ouvir o CD não interferiu no seu relacionamento, pois já estava separada do marido havia pelo menos quatro meses. Em seguida, o jornal deu que ‘ela condenou a ação do marido [sic] de criticar publicamente o jornalista da Folha’.

Por fim, beirando o ridículo, acrescentou que ela teria dito a Pagnan: ‘Ele citou seu nome porque deve ter alguma coisa pessoal com você. Sou solidária com você.’

Desculpas? Que desculpas?

Ainda não acabou. Tem a pantanosa história das desculpas que, na versão de Buratti à CPI, um repórter especial da Folha teria lhe pedido, formalmente, ‘em nome do jornal’.

Entra em cena o ombudsman Marcelo Beraba comentando que ‘se tudo ocorreu realmente como o jornal descreve, o repórter agiu com correção’, para concluir que, nesse caso, ‘não dá para entender por que um outro repórter pediu desculpas em nome do jornal’.

Só então se fica sabendo que Buratti tinha se queixado de Pagnan ao repórter especial Mario Cesar Carvalho, num encontro aparentemente casual no aeroporto de Brasília, na véspera do depoimento. E que este teria respondido que, se o colega fez o que o ex de dona Elza disse que ele fez, errou e ‘devia desculpas’.

Quando tudo parecia esclarecido – ninguém se desculpou, apenas um repórter achou que outro devia fazê-lo – eis que o jornal pendura no pé da matéria uma complicadora ‘Nota da Redação’.

Nela se lê que, para a Folha – acertadamente – ‘a vida privada só tem relevância jornalística se estiver ligada a fato de interesse público’ e ‘foi com essa preocupação’ que o seu repórter procurou Elza Buratti com o tal do CD, que ela quis ouvir como estava, ‘sabendo que havia trechos de conversas íntimas’.

A nota considera ‘falha’ do repórter ele já não ter eliminado do CD, antes de levá-lo à ex-mulher do grampeado, as partes eventualmente constrangedoras.

Mas logo antes a Folha não noticia que Elza disse ‘que não se sentiu constrangida’?

E Buratti, mentiu ou não mentiu sobre as desculpas pedidas ‘em nome do jornal’? E se o repórter ‘falhou’, como fica o ombudsman que diz que ‘não dá para entender’ as desculpas oferecidas, – que, aliás, o jornal informa não terem sido oferecidas?

Pobre leitor. É como se a Folha o tivesse submetido hoje a uma daquelas intermináveis sessões de CPI, em que, depois de torrentes de palavrório, o incauto espectador não só continua sem saber onde está a verdade, mas fica com a sensação de que não entendeu nem o que os políticos perguntaram, nem o que o depoente respondeu.