Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Crise leva jornais a rever projeto, nos EUA

O San José Mercury, um dos mais inovadores matutinos dos Estados Unidos, admitiu que será necessário rever todo o projeto do jornal depois que ele foi obrigado a demitir 14% dos jornalistas para compensar a queda na publicidade.


A revisão tornou-se inadiável, segundo Susan Goldberg, editora executiva do jornal, porque a redução do pessoal provocará invevitavelmente uma baixa de qualidade na publicação e consequentemente a fuga de leitores, o que anulará todo o esperado alívio financeiro com as demissões.


O Philadelphia Inquirer, outro que enxugou a redação em 15%, vai no mesmo caminho, porque admitiu que a política de cortes de pessoal gera um círculo vicioso cuja consequência é afundar ainda mais o jornal, conforme declarações de Amanda Bennett, editora chefe à revista Editor & Publisher.


A crise na imprensa já levou algumas corretoras de valores em Nova Iorque a desconselhar investidores a comprar ações de empresas jornalísticas. A Goldman Sachs e a Merril Lynch admitiram que esperam tempos duros e difíceis para a indústria dos jornais nos próximos anos. ‘Não adianta mais demitir pessoal’ reconheceu Lauren Fine, da Merrill Lynch, que comunicou aos jornais a drástica redução dos anúncios da mega rede varejista Federated (dona das lojas Macy´s e Bloomingdale´s) que resolveu migrar para a internet, onde a publicidade é mais barata, embora ainda não tão eficiente quanto nos meios impressos.


O Mercury e o Philly são os dois primeiros jornais de médio e grande porte nos Estados Unidos a admitir publicamente que o modelo tradicional de negócios adotado por todo o segmento está falido. Trata-se de uma decisão corajosa pois a mídia impressa tem se mostrado muito lenta no ajuste à nova realidade criada pelo surgimento de internet como veículo de comunicação.


O que os jornais ainda não fizeram foi chamar os jornalistas para participar da busca de alternativas. Não se trata de dar o braço a torcer mas de usar todos os recursos humanos possíveis para encontrar um novo modelo. Os executivos de jornais sabem como tocar o negócio. Só que o modelo de negócios dos jornais está cambaleando, portanto é preciso buscar inspiração e idéias novas noutro setor, como os jornalistas, por exemplo, que são quem sabe produzir notícias e quem deveria conhecer melhor o leitor.


Incluir os jornalistas na revisão do projeto dos jornais é a alternativa mais eficiente para evitar o trauma das demissões que só provocam frustrações, desilusão e mais prejuízos. O grande impecilho a esta iniciativa talvez seja o orgulho de alguns executivos que preferem ver o seu jornal afundar do que pedir a colaboração dos funcionários.


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