Quem trabalha com informação hoje em dia tem que lidar com um problema que está se tornando cada vez mais frequente e complexo. Trata-se da questão das meias verdades, ou seja quando se publica apenas um lado do problema ou uma única versão do fato.
Os políticos são mestres em meias verdades e os jornalistas estão sendo atropelados pela tendência das fontes informativas de recorrer cada vez mais a este expediente, sempre que defrontados com uma situação incômoda ou difícil de explicar.
O resultado é que a cobertura jornalística acaba sendo uma colcha de retalhos de meias verdades, o que pode gerar grandes erros de percepção.
O tradicional recurso de ouvir duas fontes, uma contra e outra a favor, não é mais suficiente para um esclarecimento mínimo porque a avalancha informativa gerada pela internet disponibilizou um tal número de enfoques e versões que já não é mais possível reduzir-se a diversidade a apenas dois lados.
O uso de meias verdades não é um delito grave, porque a rigor quem usa o expediente não está mentindo legalmente. Está simplesmente se aproveitando na falta de informação de outros para tentar criar uma imagem positiva.
Todos nós conhecemos a expressão ‘olhar para o outro lado‘, muito comum quando se trata de omissões na fiscalização de um procedimento ou ato, por exemplo. É dificil provar a cumplicidade de um guarda de trânsito que resolveu coçar a orelha justo no momento em que o carro avançou o sinal.
Jornalisticamente, a questão das meias verdades não é um problema legal mas sim profissional. Uma meia verdade só prospera quando não há contextualização da informação, ou seja quando não se procura ver o maior número possível de lados do mesmo problema.
A contextualização é o melhor antídoto contra o desenvolvimento de percepções equivocadas, porque é a ferramenta ideal para flagrar contradições e omissões. Só que a identificação de causas, consequências, beneficiados e prejudicados por algum ato ou informação é sempre um trabalho árduo, complicado e geralmente demorado, o que entra em conflito com as normas e a rotina das redações. O resultado é que geralmente sacrifica-se a busca da veracidade pelo imediatismo da concorrência.
O jornalismo está ingressando numa era onde o aumento da frequência no uso de meias verdades por parte das fontes de informação começa a comprometer seriamente não apenas a credibilidade no noticiário mas principalmente todo o processo de formação de opiniões. Sem credibilidade um jornal, revista ou telenoticiário torna-se mero veículo de entretenimento.
Caro Leitor: Serão desconsiderados os comentários ofensivos, anônimos e os que contiverem endereços eletrônicos falsos.