Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Desastre de Poleto na CPI deu veracidade à história do dinheiro cubano


Há duas semanas, este blog talvez tenha sido o primeiro a levantar pontos obscuros e dúvidas da reportagem de capa da revista Veja sobre o dinheiro de Cuba para o PT. Hoje, nem a revista está certa de que todos os detalhes que relatou realmente aconteceram, e nem o jornalista responsável por este blog está seguro de que são procedentes todas as deduções que colocaram a reportagem de Policarpo Jr. sob suspeita.

O divisor das águas que esclareceu algumas sombras da reportagem apontadas pelo blog foi a ida do economista Vladimir Poleto à CPI dos Bingos. Poucas vezes as CPI em curso mostraram um massacre como o exibido ao vivo pela TV Senado e pela GloboNews. Os jornais estavam presos a mais uma dissidência do Ministério de Lula sobre a política econômica, desentendimento que mina o governo praticamente desde o início. Mas o governo definhava mais um pouco do outro da avenida, onde Poleto se complicava cada vez mais diante de experientes inquisidores, como o senador Demóstenes Torres (PFL-GO), procurador da Justiça e ex-secretário da Segurança Pública de Goiás.


O limitado ex-funcionário da Prefeitura de Ribeirão Preto se enrolava a cada resposta. Sua estratégia de comprometer o repórter Policarpo Jr. parava em Heráclito Fortes (PFL-PI), senador suplente da CPI. Ele sabia até mesmo que faz parte da ‘política interna’ da Editora Abril, a empresa que publica Veja, não disputar o Prêmio Esso. Para constar no histórico das CPI, Heráclito Pontes é o mesmo que defendeu Daniel Dantas durante depoimento do dono do banco Opportunity na CPMI dos Correios. Puxando o mesmo fio da meada, Dantas também já foi apontado por parlamentares do PT como financiador de parte considerável da enxurrada de arapongagens e gravações clandestinas que inundou a imprensa.


Mas, assim como o governo Lula, que não precisa da oposição para criar problemas (o últimos deles foi o novo fogo amigo de Dilma Roussef contra Antonio Palocci), Poleto também se enrola sozinho. Não pelo que disse ou deixou de dizer, mas pelo que fez e participou em eventos extra-oficiais do governo Lula. Ele estava na mão de Policarpo Jr. – a ‘coação’ que Poleto tentou sustentar – pelas informações que o repórter tem sobre as recepções da mansão do Lago Sul. Não por acaso, Poleto confessou confirmou na CPI que contou o que estava se passando para a mulher e o filho adolescente.


As relações da turma de Ribeirão Preto com as garotas da promotora de festas Mary Córner que freqüentavam a casa alugada por Poleto são muito mais profundas do que o noticiado até agora. São elas que levaram Poleto a se encontrar com o repórter em um hotel de Ribeirão Preto, cedendo à ‘coação’ que tentou alegar na CPI.


Ocorre, no entanto, que esse tipo de coação é inevitável no trabalho de investigação jornalística, principalmente na cobertura de casos cabeludos como os que povoam as CPI em andamento. Tendo posse de informações que comprometem o possível entrevistado, a ameaça de publicar as informações com ou sem a entrevista costuma ser muito eficiente. Quanto mais delicadas foram essas informações, maior é o ‘poder de convencimento’.


Apesar de dizer que foi coagido, Vladimir Poleto também disse aos senadores que gostou de Policarpo Jr., que sentiu forte empatia pelo repórter. Ambos conversaram durante cerca de cinco horas, mas o que interessava coube em nos 7m46s que sustentaram a reportagem sobre o dinheiro cubano na campanha de Lula. A viagem efetivamente existiu e as três caixas de bebidas também. Mas apenas o morto Ralf Barquete pode confirmar se Poleto contou a verdade ou inventou a origem cubana do dinheiro.

A tese de que a reportagem era uma fantasia também prosperou por responsabilidade da revista. Primeiro, por ter assumido um dos principais papéis da crise, como, aliás, o entrevistado das páginas amarelas desta semana, Tasso Jereissati, admite. Segundo, porque distorceu fatos em várias ocasiões nas dezenas de páginas dedicadas à crise desde meados de maio passado.