Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Dimasduto: bomba ou traque?

O primeiro a dar a notícia foi Ilimar Franco, na coluna “Panorama Político” do Globo de sábado.

Eis os principais trechos da nota intitulada “Dimasduto?”

“Integrantes da CPI dos Correios receberam, informalmente, cópias de um documento de cinco páginas sobre um esquema de arrecadação de recursos para as campanhas do PSDB em 2002. Esse documento, acompanhado de um laudo do perito Ricardo Molina, está em mãos da Polícia Federal, que investiga os dados ali contidos. O operador teria sido Dimas Toledo, ex-diretor de Furnas.”

“O documento, que teria sido elaborado, assinado e autenticado em cartório pelo próprio diretor de Furnas, mostra que ele arrecadou recursos junto a colaboradores, fornecedores, prestadores de serviços, corretoras de valores, seguradoras e bancos que tinham relações com a estatal. Na página cinco, há uma lista dos principais doadores. Nas quatro páginas anteriores, as campanhas beneficiadas e os valores que elas teriam recebido nos dois turnos das eleições.”

“Um dos personagens mais destacados da CPI disse que a comissão, que recebeu uma cópia, não está ainda investigando o documento, mas acha que pode ser consistente.”

“A PF fez uma análise inicial e considerou o documento consistente. Os dados disponíveis e o que se conhece da investigação na PF ainda não permitem precisar se os recursos arrecadados constam da contabilidade oficial ou se fazem parte de um caixa dois que levantou R$39,9 milhões.”

“Segundo o documento, o `dimasduto ajudou a financiar campanhas de deputados tucanos, do PFL, do PMDB, do PTB, do PP, do PSC e do PL de vários Estados. Estão nessa lista mais de uma centena de parlamentares eleitos, inclusive investigadores da CPI dos Correios e relatores de processos de cassação do Conselho de Ética da Câmara.”

Quando li a coluna, imaginei com algum otimismo que a concorrência, para não falar no próprio Globo, fosse apanhar a peteca em pleno vôo já no dia seguinte, “repercutindo”, como em má hora se deu de dizer no ofício, a denúncia-bomba. Mas nada no domingo nem ontem.

Só hoje, solitariamente entre os três grandes da imprensa diária, a Folha informa que “PF investiga suposto caixa 2 de Furnas”.

Duto com ponto de interrogação

Reportagem assinada por Rubens Valente acrescenta que, segundo os papéis a que a Polícia Federal teve acesso em fins do ano passado, 156 candidatos a todos os cargos em disputa em 2002 – incluíndo, portanto, o de presidente da República – receberam dinheiro do alegado dimasduto.

A matéria lembra ainda que Dimas, com mais de três décadas de casa em Furnas, se demitiu quando citado pelo então deputado Roberto Jefferson como envolvido em desvio de recursos da estatal que administra 10 hidrelétricas, atuando em 9 Estados mais o Distrito Federal.

O texto informa que, no inquérito sobre Furnas, a PF já ouviu Nilton Monteiro, que revelou o caixa 2 na campanha tucana de 1998 em Minas, deixando mal na fita o ex-governador e atual senador Eduardo Azeredo.

Não está claro se Nilton foi ou será ouvido também sobre o que por enquanto convém chamar de dimasduto seguido de um ponto de interrogação, como fez Ilimar, no Globo.

Dimas aparece na matéria negando a autenticidade do documento, cuja lista teria sido exibida a seus advogados há dois meses “por jornalistas de revista de circulação nacional”. Em nota à Folha, Dimas diz que o original da lista nunca apareceu porque “submetido o original à perícia ficaria de uma vez por todas a falsidade [do documento que leva a sua assinatura]”.

O ex-diretor de Furnas afirma que jamais foi arrecadador ou caixa de campanha de político algum. Diz esperar que as investigações da PF identifiquem o autor da “fraude” para que possa processá-lo.

Até para desmentir a teoria de que só divulga o que seriam os podres do PT, a mídia está na obrigação de botar pressão no assunto, marcando de perto o trabalho dos federais e garimpando junto a políticos descontentes – sempre os há – material capaz de ajudar a esclarecer se o papelório é ou não um traque.

Por que se for, como escreveu Ilimar, “haverá ainda mais lenha na fogueira”. Para dizer o mínimo.