Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Do exterior, reflexốes mais consistentes sobre nosso futuro

Enquanto o blog se bate por conta de uma frase sobre prostitutas atribuída a Fidel Castro, o livro que motivou o post anterior recebeu hoje a primeira pedrada na imprensa espanhola. Mais surpreendente é que o artigo que detona com “Fidel Castro, Biografia em Duas Vozes”, do jornalista Ignacio Ramonet, diretor do Le Monde Diplomatique, saiu publicado no El País, o jornal mais progressista – e também o mais vendido – da Espanha.  


 


O artigo, assinado por Antonio Elorza, desde o título – “A Serviço de Fidel” – demole o catatau de 655 páginas e merece registro por suas consideraçốes ao trabalho que muitos jornalistas se aventuram a fazer sobre perfis de personalidades vivas. Diz o autor Elorza:

”Existem diversos modos de escrever uma autobiografía dialogada com uma personagem, mas aqui interessam as duas variantes principais. Uma delas consiste em tomar o caminho da confrontaçấo: o interlocutor se documenta com profundidade e pergunta ao biografado as questốes mais relevantes que fazem parte da sua trajetória de vida, dando, assim, oportunidade para esclarecimentos, discrepâncias e contradiçốes. Sấo as regras para elaborar um documento com veracidade.


 


“O caminho oposto”, continua, “consiste em fazer o papel de guia, levando o autobiografado pelos temas que ele mesmo deseja, passando por cima dos que sấo incómodos, renunciando às objeçốes quando encontra alguma falsidade evidente, e servindo de trampolim para a exposiçấo doutrinal de cunho propagandístico. Parece óbvio que, a essa altura, Fidel Castro nấo iria prestar-se a outro jogo do que o da entrevista-rio convertida em rampa para seu próprio lançamento, de acordo com a segunda via já mencionada. Isso explica o pouco interesse de trabalhos como ´Comandante´, do cineasta Oliver Stone, ou a autobiografía com Ignacio Ramonet de segunda voz”.


 


E por aí vai o texto, num malho de dar dó.


 


A polêmica iniciada em torno da “biografia a dois”, ao que tudo indica, mal começou. Outras resenhas devem sair nos próximos dias. O debate por aqui promete porque as mudanças na América Latina estấo gerando interesse crescente, principalmente em torno do que aqui está sendo chamado de ‘neocaudilhismo’. O tema ganhou hoje cinco páginas no principal caderno de lteratura do principal concorrente do El País, o ABC, a propósito das presenças de Fidel Castro, Hugo Chávez, da chegada de Evo Morales à Presidência da Bolívia e da provável vitória de Ollanta Humala nas eleiçốes presidenciais do Peru.

Das três reportagens – “Neocaudilhismo, a história interminável”, “O Populismo Gótico” e “Uniformes, caudilhos e outras antiguidades” – apenas o último, assinado por Manuel Lucena Giraldo, cita o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva:

”Pouca gente séria e que reside de verdade do outro lado do Atlântico, de esquerda ou de direita, compartilha com idéia de que existe uma nova esquerda hemisférica. Ainda que essas pessoas considerem que antigos e recentes triunfos eleitorais de Lula no Brasil, Tabaré Vázquez no Uruguai, e até mesmo Evo Morales, na Bolivia, obedecem a tendências sociais e eleitorais de longo alcance com o aval do sistema democrático. Será porque”, pergunta o autor, “essa idéia da nova esquerda serve para que, na Europa e nos Estados Unidos,algumas capelas acadêicas bem-pensantes estấo esperando por um bom selvagem para salvar sua existência?”

Como se vê por essas reflexốes publicadas nos dois maiores jornais da Espanha, o futuro da America Latina, e do Brasil, está sendo pensado com mais profunidade e consistência do que a grande imprensa brasileira.