Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

Do que será que estamos fartos de ler?

O atento correspondente do Globo em Washington, José Meirelles Passos, informa hoje que, segundo um levantamento do respeitado centro de pesquisas Pew, 48% dos americanos consideram que o candidato Barack Obama aparece demais na mídia – e se dizem cansados disso. Só 26% falam o mesmo em relação a John McCain.


Olhem que ainda faltam 18 dias para a convenção democrata – e, a contar daí, outros 71 dias até a eleição. Três meses mais, portanto, de cobertura por saturação da campanha do primeiro candidato negro com chances reais de chegar à Casa Branca.


Pode-se especular se o excesso de obamamídia pode enjoar uma parcela do eleitorado americano a ponto de fazê-la se desinteressar da eleição. Mas isso é lá com eles.


Aqui, seria o caso de saber de quantos assuntos o público se fartou de ler, ver ou ouvir, ultimamente.


Proponho que os eventuais leitores mandem as suas listas particulares – podem servir de guia para quem decide nas redações o que noticiar, como, quando – e quanto.


Haverá quem ache, por exemplo, que o Estadão está gastando espaço demais com a proposta do ministro da Justiça, Tarso Genro, de se criarem condições para levar aos tribunais os torturadores do ditadura de 1964.


Faz uma semana que o assunto não sai de cena no jornalão – em matérias, artigos, entrevistas e num dos editoriais de hoje.


E mais de uma reportagem sobre a reação dos militares a respeito resvala para o inflamatório, destacando os previsíveis arreganhos do pessoal de pijama.


Enquanto isso a concorrência informa que o presidente Lula não soube por antecipação da fala de Tarso, mas soube, sim, do “alto lá” do ministro da Defesa Nelson Jobim para tirar a questão da área do Executivo.


Para o bem ou para o mal, o que o Estado passou a chamar de “desanistia” perde gás a olhos vistos no Planalto, de onde parecem vazar insinuações sobre os motivos menos nobres que teriam levado o ministro da Justiça a levantar o caso.


E não há na opinião pública sinal de interesse pelo assunto, muito menos qualquer pressão perceptível da sociedade para pôr na agenda nacional o tema da impunidade dos torturadores.


Já seria alguma coisa se houvesse uma demanda pelo resgate dos arquivos do velho regime relacionados com a repressão. Mas o público e a imprensa não estão nem aí para isso.