Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1280

Drogas na avenida

O Jornal da Tarde revelou na semana passada como funciona um esquema de compra de drogas estilo drive-thru em ruas do Brooklin paulista e do Campo Belo, zona sul paulistana. Hoje (24/4) o Estadão repercute a reportagem. Seria recomendável que a imprensa acompanhasse os desdobramentos da denúncia. O local do crime, por sinal, chama-se Avenida Roberto Marinho.


Nascido e criado nessa área era o rapper Sabotage, assassinado em 2003, uma das belas  surpresas do filme O Invasor, de Beto Brant, para o qual fez a trilha sonora. Sabotage atuou no filme.


Eis a biografia do rapper segundo o Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira,


‘Nascido na favela do Canão, da Zona Sul de São Paulo, ficou órfão de mãe quando ainda era criança e só foi conhecer o pai (Julião) quando completou 15 anos.

Em 1980 o irmão lhe colocou o pseudônimo de ´Sabotage´. Passou a atuar no tráfico de drogas (levado pelo tio).

Foi interno da Febem.

Seu irmão foi um dos que morreram na chacina dos 111 presos do Carandiru em 1992.

Após o conselho de um dos donos do tráfico, passou a cantar rap.

Considerado um dos principais nomes do rap nacional, ao lado dos Racinais MC´s.

Em novembro de 2002 recebeu dois ´Prêmios Hutus´, um dos mais importantes do rap nacional, nas categorias Personalidade do hip hop e Revelação.

Era casado com Maria Dalva Viana, com quem tinha duas filhas: Tamires e Larissa.”


Clique aqui para ler mais sobre Sabotage no dicionário online de Ricardo Cravo Albin.


A seguir, trechos da notícia do assassinato na Folha de S. Paulo (25/1/2003):


O rapper Mauro Mateus dos Santos, 29, o Sabotage, foi morto ontem com quatro tiros em uma rua da zona sul de São Paulo. Compositor da maioria das músicas da trilha do filme ‘O Invasor’, Sabotage foi encontrado caído na calçada. A polícia investiga o eventual envolvimento de um desafeto do rapper. (….)


Os tiros atingiram o ouvido, a boca e a coluna cervical do músico. Três cápsulas deflagradas –provavelmente de uma pistola 380 milímetros – foram encontradas no local. (….)


Como não tinha carro, Sabotage costumava levar a mulher ao trabalho de ônibus ou de lotação, segundo Fábio Lomonaco, assessor de imprensa da YBrazil, gravadora responsável pelo CD da trilha do filme O Invasor. (….) Lomonaco calcula que o rapper, que morava na favela do Canão, no Jardim da Saúde (zona sul), retornava para pegar a condução quando foi atacado. ‘Ele era uma pessoa muito pacífica. Estamos todos chocados.’


O repórter Mário Cesar Carvalho escreveu:


Sabotage sabia claramente que era um sobrevivente do Vietnã que avança pela periferia de São Paulo. Vivia repetindo: ´Foi o rap que me salvou. Todos os meus primos, meus tios, meus amigos, é tudo traficante. Eles me davam dinheiro para eu não traficar. Não queriam que eu caísse nessa vida´. Exibia sua escapada do tráfico como uma medalha de guerra: ´Consegui´, era o subtexto, ´porque tenho talento´.


Os tios de Sabotage, segundo o rapper e ator, traficavam na favela do Buraco Quente, no Brooklyn (zona sul de São Paulo). Ele contava, sem qualquer constrangimento, que havia sido ‘avião’, o garoto que leva a droga até os ´playboys´, como os chamava, que paravam seus carros na favela.


Dizia que passou pela Febem (Fundação para o Bem-Estar do Menor) e que ficou preso por oito meses num distrito porque os policiais sabiam que seus tios comandavam o tráfico na favela.


Mostrava uma queimadura em forma de colher no braço, que policiais teriam feito para que entregasse seus parentes. Dizia ter suportado a tortura em silêncio. Sabotage contava que só não foi parar no Carandiru porque deu dinheiro aos policiais. Em 2002, ele voltaria ao presídio em outra condição – como figurante de Carandiru, filme de Hector Babenco (….).”


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No Globo de domingo, Chico Buarque de Holanda recoloca a discussão sobre a descriminalização das drogas: ‘Se as drogas são um flagelo, o tráfico é muito pior’.