Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Economista americano diz que os interesses econômicos pesam mais nas distorções no noticiário que a ideologia


Matthew Gentzkow, é um dos primeiros economistas da famosa escola de Chicago a criar fórmulas matemáticas para estudar a questão das distorções no noticiário dos jornais, um tema onde a diversidade de opiniões é quase tão grande quanto a complexidade do problema.


E como era previsível, as conclusões do estudo O Que Leva a Imprensa a Ser Tendenciosa (What Drives Media Slant ) estão provocando uma grande polêmica tanto entre jornalistas como entre leitores e pesquisadores da comunicação.


A mais controvertida das conclusões da pesquisa é a de que o noticiário tendencioso é mais influenciado pelo público leitor do que pelo dono do jornal. Outra afirmação do estudo realizado por Matthew Gentzkow e seu colega de universidade Jesse M. Shapiro é a de que os jornais distorcem a notícia para obter credibilidade dos seus leitores.


Estas duas conclusões provocaram apaixonados debates tanto entre jornalistas considerados conservadores nos Estados Unidos como entre os profissionais tidos como liberais. Segundo Gentzkow isto é uma conseqüência do fato de que nem um nem outro grupo reconhece que existe tendenciosidade, ou o que os norte-americanos chamam de bias, no noticiário jornalístico quotidiano.


Os dois economistas basearam as suas conclusões em modelos matemáticos construídos a partir de uma pesquisa onde eles compararam a freqüência com que determinadas expressões usadas por parlamentares republicanos e democratas apareciam no noticiário de 400 jornais estudados.


Segundo eles, os jornais tendem a distorcer informações para adequar-se às crenças e valores do seu público. Seria uma decisão mais econômica do que ideológica porque a grande preocupação seria a vendagem de exemplares, e a reflexão para justifica-la seria a seguinte:


Quando uma notícia entra em choque com as crenças dos leitores, eles tenderiam a ignorá-la e desconfiar do material publicado. Nestas condições, segundo Gentzkow e Shapiro, a preocupação dos jornais com a manutenção da sua credibilidade os levaria a ‘dar um giro’ na notícia para torna-la mais palatável ao público.


Evidentemente que uma afirmação como esta bate de frente com uma série de idéias bastante consolidadas e que creditam os desvios jornalísticos à ideologia dos executivos e proprietários de jornais.


O estudo afirma também que o noticiário tendencioso é mais freqüente na cobertura de temas complexos ou mais abstratos (por exemplo, a guerra no Iraque) do que em questões objetivas (como cotações da bolsa). Garante também que a freqüência de notícias distorcidas diminui muito em ambientes de alta diversidade de fontes de informação.


Neste item, os autores batem de frente também com o governo Bush que pretende usar a pressão diplomática e econômica para tentar frear, o que a Casa Branca considera, facciosismo anti-americano da imprensa árabe, na questão da guerra do Iraque. O estudo sugere que a alternativa seria diversificar as fontes de opinião para minimizar o efeito do noticiário da TV Al-Jazzira, por exemplo.


O estudo é muito complexo e tem páginas e mais páginas com fórmulas matemáticas e estatísticas para fundamentar as teses de Gentzkow e Shapiro. O primeiro impulso é rejeita-las ou aceita-las a partir dos valores de cada um. Pode-se não concordar com as propostas, mas tudo indica que a pesquisa foi séria e aprofundada.