Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Eleição polui investigação

Os que acham que a imprensa brasileira chega a ser pior do que políticos
corruptos decerto vão achar ingenuidade, mas tenho por dever de ofício esperar
dos jornais de amanhã – hoje não teria dado tempo – algum editorial condenado a
‘eleitoralização’ do caso dos sanguessugas.


E aí os fatos são públicos e notórios. Os candidatos Geraldo Alckmin e
Heloísa Helena perderam uma excelente oportunidade de ficar calados quando
saíram a afirmar que a ‘matriz’ do escândalo é o atual governo, porque um
ex-ministro da Saúde de Lula, o petista Humberto Costa, teria sido citado nos
depoimentos do capo mafioso Vadoin – o que o advogado dele nega – e porque
outro, o deputado pemedebista Saraiva Felipe está entre os 90 parlamentares e ex
já notificados pela CPI dos Sanguessugas para apresentar suas defesas
prévias.


Levaram o troco em menos tempo do que leva para dizer bai-xa-ria. Mas o troco
não despoluiu o debate.


O ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos e o da Controladoria Geral da
República, Jorge Hage, convocaram uma conferência de imprensa para informar que,
entre 2000 e 2004, a Planam, de Vedoin, ganhou 891 licitações [em
3.048 convênios com prefeituras] para fornecimento de ambulâncias com
recursos federais, a partir de emendas parlamentares aos orçamentos anuais da
União.


Todas, disseram os ministros, com ‘fortíssimos indícios de fraudes’,
envolvendo 128 prefeituras do PSDB, 107 do PFL e 106 do PMDB [o mesmo
partido cujos caciques são sempre corajosamente a favor do governo,
qualquer que seja]. Prefeituras petistas fecharam apenas 19 convênios com a
Planam.


Nada disso, em si, quer dizer muita coisa. PSDB, PFL e PMDB governam cada
qual, muitíssimos mais municípios do que o PT. Devagar com o andor,
portanto.


Segundo o jornal Valor, a sigla que teve o maior número de prefeitos
envolvidos, em relação ao total de eleitos em 2000, foi o PDT (17%). Seguem-se o
PPS (14%), PTB (13,6%), PSDB (12,9%), PT (10,9%), PFL (10,4%), PL (9,8%), PMDB
(8,4%) e PP (5,9%).


De todo modo, é difícil não dar razão ao ministro Hage, da CGU, quando
pergunta, retoricamente:


‘Por que o governo que estourou e investigou o esquema [pura verdade] tem de
ser posto na condição de réu?’


E emendou de primeira:


‘Não se trata de jogar os sanguessugas no colo do governo passado, mas de
repelir o escamoteamento da verdade. A fonte da CGU não é A ou B nem quem está
interessado em delação premiada. São dados objetivos. Desafio qualquer um a
refutá-los.’


Eu conheço um pouco da história recente da CGU. No governo Fernando Henrique,
a sigla era a mesma, mas o órgão se chamava Corregedoria e – o que mais
interessa – ganhou novos poderes aos ser rebatizada de Controladoria. Desses
poderes acrescidos a CGU fez bom uso no outro governo e continua fazendo neste.
Nada sei que desabone o seu pessoal, antes ou agora.


Com a finesse de sempre,o líder tucano no Senado Arthur Virgílio em
seguida cobriu o ministro Hage de impropérios. Chamou-o de taifeiro ‘que
joga para debaixo do tapete as roubalheiras que o governo faz’. Mas esperar o
que do nobre parlamentar?


O que conta realmente – e em relação a que a imprensa precisa tomar posição
clara e forte – e não se permitir que as investigações
e processos contra a vampiragem sejam contaminados pela disputa
eleitoral.


Mesmo porque, infelizmente, nenhum partido pode atirar nos demais a primeira
pedra, como se fosse a proverbial imagem de santa na casa de tolerância. Uns
mais, outros menos, quase todas as principais agremiações representadas no
Congresso, e algumas periféricas, têm suspeitos identificados de prestar
serviços a Don Vedini.


Assim se distribuem os 90 políticos já notificados pela CPI [cujo presidente,
por sinal, é um petista, e o vice é do PPS que apóia Alckmin – e ambos trabalham
juntos pela verdade]:

PL 18
PTB 17
PP 17
PMDB 11
PFL 9
PSB 6
PSDB 4
PPS 2
PSC 2
PRB 2
PT 2

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