Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Especialistas dizem que a notícia grátis está na base do novo modelo de negócios da imprensa

O jornalismo norte-americano Chris Anderson se especializou em tirar o sono dos executivos da mídia convencional. Apesar de ser um deles, o editor chefe da revista Wired sacudiu os seus colegas há dois anos ao defender a tese dos nichos na internet, também conhecida pelo nome de teoria da Cauda Longa.


 


Segundo Anderson, 47 anos, a internet viabiliza pequenos e micro negócios online porque derrubou as fronteiras para ampliar mercados consumidores. Embora a teoria da Cauda Longa ainda tenha muitos críticos, ela alimenta as expectativas de milhares de jornalistas na Web que sonham com a auto-subsistência online.


 


Agora, o editor chefe da revista Wired prepara-se para lançar em julho, uma nova provocação aos economistas e jornalistas convencionais, ao defender a tese de que a gratuidade é um grande negócio na economia digital. O livro Free (Livre) deve ser lançado nos próximos dois meses e já tem uma fila de compradores interessados.


 


Embora Chris Anderson tenha sempre procurado manter-se distante da crise no negócio dos jornais e da televisão aberta, na semana passada ele resolveu entrar na polêmica. Bem ao seu estilo bombástico, Anderson afirmou que centenas de empregos serão perdidos na imprensa em conseqüência da queda na lucratividade nas empresas jornalísticas convencionais.


 


“As empresas terão que descobrir fórmulas que ainda não foram testadas na internet. Não adianta insistir com classificados online porque estes já migraram para a Web e não voltarão nunca mais. O mesmo já aconteceu com as cotações da bolsa, com a previsão do tempo e com a agenda cultural. Os jornais só sobreviverão conseguirem fazer aquilo que a Web não pode fazer”, aconselhou Anderson.


 


A receita do editor da Wired é simples: a imprensa convencional só sobreviverá se resolver aceitar que seus negócios vão encolher, que ela não será mais a toda poderosa da informação e que a alternativa comercial está em produzir material de alta qualidade, sem pensar em ganhar dinheiro.


 


Anderson disse numa palestra à distância durante o Journalism Leaders Forum, promovido na semana passada pela Universidade de Lancaster, na Inglaterra, que a imprensa não pode mais cobrar pela notícia, porque ela é grátis na internet e vai ter que buscar faturamento por meio da reportagens investigativas.


 


O Journalism Leaders Forum de 2008 concentrou suas atenções na busca de modelos alternativos de negócios para a imprensa escrita. A grande maioria dos participantes nos painéis de debate afirmou que a imprensa terá que adotar um sistema baseado no fornecimento de noticias grátis como forma de fidelizar leitores para que eles paguem por reportagens investigativas e informes especiais.


 


Mark Andreseen, criador do navegador Netscape e um dos gurus da internet, afirma que os jornais deveriam aprender com King Gillette que distribuiu gratuitamente aparelhos de barba para ficar multimilionário com a venda as laminas de barbear.


 


O mesmo expediente está fazendo a fortuna das operadoras telefônicas que doam celulares a usuários intensivos para lucrar nas chamadas. Esta também foi a opção escolhida por alguns fabricantes de jogos eletrônicos que dão os consoles de graça para faturar com a venda de games. Mas o melhor caso de sucesso na estratégia do grátis é o Google, que não cobra nada pelas buscas, mas tornou-se a mais valorizada empresa da internet.