Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Estadão perde a memória na apresentação do juiz Rocha Mattos

Hoje, 26/10, todos os jornais trazem mais uma personalidade polêmica para colaborar com a crise política: o juiz federal João Carlos da Rocha Mattos.


Ontem, falando à CPMI dos Bingos, Rocha Mattos fez várias acusações ao chefe de Gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho, que logo mais enfrenta, em acareação, os dois irmãos do ex-prefeito de Santo André. Celso Daniel, assassinado em janeiro de 2002.


O assunto ocupa a manchete principal do O Estado de S.Paulo, ‘Juiz acusa assessor de Lula de tentar abafar caso Celso Daniel’, e dedica uma página para as declarações de Rocha Mattos.


Os leitores da versão impressa das 23h25 do jornal devem ler a reportagem com muita atenção. Há apenas duas referências sobre quem é Rocha Mattos. Uma no subtítulo ‘Juiz preso pela Operação Anaconda depõe a (sic) CPI e diz que grampos indicam que Carvalho coordenava esquema de propina’; outra, de passagem, no tópico ‘Punição, no qual Rocha Mattos queixa-se dizendo ‘eu sou o único preso por causa do assassinato do prefeito Celso Daniel’.


Nos outros grandes jornais do eixo Rio-São Paulo, e no Correio Braziliense, ao contrário, a circunstância carcerária de Rocha Mattos, é sempre descrita no detalhe:


Folha de S.Paulo


ESCÂNDALO DO ‘MENSALÃO’/CASO CELSO DANIEL


Juiz afastado afirma que petistas discutem, em conversas gravadas, meios para abafar investigação da morte do prefeito de Santo André


Justiça tem fitas contra PT, diz Rocha Mattos


O juiz federal afastado João Carlos da Rocha Mattos, 57, preso há dois anos, disse ontem à CPI dos Bingos que a Justiça Federal em São Paulo tem cópias de 42 fitas cassetes com gravações ilegais nas quais petistas discutem, segundo ele, meios de abafar as investigações do assassinato do prefeito de Santo André (SP), Celso Daniel, morto em janeiro de 2002. A intenção dos petistas era esconder suposto esquema de corrupção do PT, afirmou Mattos. (…)


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Correio Braziliense


Juiz assusta o Planalto


Em depoimento à CPI dos Bingos, Rocha Mattos acusa Gilberto Carvalho e Greenhalgh de tentar abafar o caso Celso Daniel e dá detalhes sobre a trama que envolve o assassinato do prefeito de Santo André


O juiz João Carlos da Rocha Mattos, condenado por vender sentenças judiciais, fez uma revelação ontem na CPI dos Bingos que pode comprometer integrantes do PT paulista no assassinato, em janeiro de 2002, do prefeito de Santo André, Celso Daniel. Segundo Rocha Mattos, o preso Dernei Luiz Gasparini recebeu telefonemas num celular clonado do ex-secretário de Serviços Municipais de Santo André Klinger Souza e do deputado estadual Donisete Braga (PT-SP), enquanto estava preso junto com líderes da organização criminosa PCC, na Penitenciária de Araraquara (SP).


Além da citação, o Correio Braziliense traz ainda breve perfil do juiz no quadro de apoio ‘para saber mais’


O vendedor de sentenças


O juiz João Carlos da Rocha Mattos foi preso em novembro de 2003 durante a Operação Anaconda, organizada pela Polícia Federal e Ministério Público para combater corrupção em tribunais. Condenado a três anos pelo Tribunal Regional Federal de São Paulo, em 17 de dezembro de 2004, por vender sentenças judiciais para beneficiar criminosos. Preso no Batalhão 9 de Julho da Polícia Militar, em São Paulo, Rocha Mattos também será julgado por outros crimes como falsidade ideológica, corrupção passiva e peculato. (…)


O Globo


Rocha Mattos acusa Carvalho de encobrir corrupção


Ao depor ontem na CPI dos Bingos, o ex-juiz federal João Carlos da Rocha Mattos acusou o chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, de tentar encobrir casos de corrupção na prefeitura de Santo André, em 2002, na investigação do assassinato do prefeito petista Celso Daniel. As declarações do ex-juiz, preso há dois anos por formação de quadrilha num esquema de venda de sentenças, devem acirrar os ânimos na CPI, dominada pela oposição, para o depoimento de Carvalho marcado para hoje, às 11h.


Ele foi condenado, por unanimidade, a três anos de prisão pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região por formação de quadrilha no caso em que é acusado de venda de sentenças judiciais. (…)


Valor Econômico


Para Rocha Mattos, PT não teve interesse em apurar morte de Celso Daniel


Em depoimento prestado ontem à CPI dos Bingos, o juiz federal afastado João Carlos da Rocha Mattos disse que o PT não tinha interesse na apuração da morte do prefeito de Santo André, Celso Daniel, e que os petistas temiam que as investigações sobre o assassinato do prefeito, em 2002, trouxessem à tona o suposto esquema de corrupção montado na prefeitura.


(…)


O juiz foi um dos principais presos da megaoperação do Ministério Público Federal e da Polícia Federal no fim de 2003, a Operação Anaconda. Foram presos juízes, delegados, empresários e advogados, acusados, entre outros crimes, de negociarem sentenças judiciais. Em dezembro de 2004, o Tribunal Regional Federal de São Paulo condenou Rocha Mattos a três anos de prisão por formação de quadrilha. Foi sua primeira condenação.


Ele responde ainda a outras sete ações penais, sob acusação de falsidade ideológica, prevaricação, corrupção passiva, adulteração de placa de veículos, abuso de autoridade, denunciação caluniosa e peculato (apropriação de bem público por servidor). A eles são atribuídos atitudes como simulação de empréstimo para ‘esquentar’ a origem de dinheiro, empréstimo de armas apreendidas em processos sob sua responsabilidade, liberação de mercadorias apreendidas, proferimento de sentença para beneficiar membro de sua suposta quadrilha e liberação de mercadorias apreendidas.


Considerado preso problema, passou por prisões de São Paulo, Brasília e Alagoas. No interior paulista, foi para Tremembé, de onde enviou ao governador Geraldo Alckmin e ao procurador-geral de Justiça, Rodrigo Pinho, pedido de instauração de processo administrativo contra os diretores da cadeia. Ele acusava os funcionários de furtarem a comida enviada pelo governo e de servir ‘o que resta de pior da seleção de itens alimentícios’ para os presos.


Jornal do Brasil


Juiz põe mais lenha na fogueira


O juiz afastado João Carlos da Rocha Mattos deu mais combustível à oposição ao afirmar ontem na CPI dos Bingos que o PT não tinha interesse na apuração da morte do prefeito de Santo André, Celso Daniel. De acordo com o juiz, os petistas temiam que as investigações sobre o assassinato do prefeito, que ocorreu em 2002, trouxessem à tona o suposto esquema de corrupção montado na prefeitura.


(…)


Mattos, que está preso desde novembro de 2003, afirmou ainda que nas gravações feitas pela PF fica demonstrado um esquema montado pelo PT para encobrir os crimes cometidos na Prefeitura de Santo André.


Gazeta Mercantil


Nada traz sobre o depoimento (versão Internet).


Além de não informar os leitores que o juiz não é apenas ‘preso’, mas ‘condenado’, O Estado abre quadro de destaque no alto da página anunciando ‘Juiz diz que PF age como polícia política’, com o seguinte conteúdo:


Juiz diz que PF age como polícia política


SELVAGERIA: O juiz João Carlos da Rocha Mattos acusou ontem a Polícia Federal de agir como polícia política. ‘Sei disso porque antes de ser juiz federal fui procurador da República e delegado da Polícia Federal’, disse. ‘A Polícia Federal age de forma política, de acordo com a política do governo e do partido que está no poder. Sempre foi assim. A ação da PF muda de acordo com as pessoas. As que não são do agrado do governo são tratadas com invasão de domicílio e selvageria. Pessoas ligadas ao governo são tratadas de forma bem light, sem pirotecnia.’ Rocha Mattos afirmou que a PF sempre fez grampos telefônicos e espionagem. Mas só atinge aquelas pessoas que podem se tornar perigosas para o governo. ‘A PF é useira e vezeira em fazer grampo. Só não grampeia o José Dirceu, o José Genoino.’ Segundo ele, a Procuradoria-Geral da República também dá tratamento desigual às pessoas. ‘O Marcos Valério e o Delúbio Soares puderam se encontrar com o procurador da República; eu não.’


O jornal prestaria um bom serviço aos seus leitores se lembrasse do editorial que publicou em 11 de setembro do ano passado:


‘Ofensiva contra a corrupção’


‘Não há crime organizado sem que nele algum agente público esteja envolvido. Se não houver o necessário rigor para apurar responsabilidades e efetuar punições no setor público comprometido, de nada adiantarão quaisquer esforços desenvolvidos no combate a organizações criminosas. Na Polícia Federal, há um segmento de 10% de integrantes que são rigorosos no combate à corrupção, outros 10% de corruptos e um contingente de 80% que não é corrupto, mas também não tem maior disposição de combater a corrupção, por medo, omissão ou ‘cultura’ corporativa. A meta maior é trazer para o lado dos rigorosos combatentes da corrupção os policiais que ficam no meio, a ‘maioria silenciosa’ que fica ‘em cima do muro’. Estas são algumas das conclusões expostas em uma entrevista do diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda – na edição de segunda-feira deste jornal -, que constitui um resumido manancial de informações e reflexões sobre a corrupção em nosso país.


Nomeado pelo presidente Lula diretor-geral da Polícia Federal, depois de três décadas de bem-sucedida carreira na instituição – não fazendo parte, pois, de nenhum esquema de investidura ‘aparelhada’ -, Paulo Lacerda comandou com êxito grandes operações de desbaratamento de quadrilhas, com vasta participação de servidores públicos dos três Poderes de Estado (entre os quais magistrados e ex-governador), tais como as apelidadas pelos nomes Anaconda, Gafanhoto, Albatroz, Vampiro, Lince, Zumbi, Namoré, Farol da Colina, Trânsito Livre, etc. Tais operações têm se destacado já por sua extensão e complexidade, já pelo emprego de sofisticados métodos de inteligência, e, sobretudo, pela falta de vazamentos em longos períodos de procedimento investigatório, mormente em se tratando de suspeitos da própria corporação policial federal, o que significa uma rara quebra de corporativismo. Credenciais, pois, o comandante-geral da PF tem de sobra para ir aos fundamentos da grande chaga social que representa o conluio e a recíproca alimentação entre o crime organizado e a corrupção no setor público.’ (…)


‘Sem dúvida o funcionário de carreira da PF, que já se notabilizara há 12 anos, quando desvendou o esquema PC Farias, teve uma grande oportunidade e faz por merecê-la. E a liberdade de atuação, de que desfruta, lhe permite não ceder a imposições nem a críticas, como a do presidente do Partido dos Trabalhadores, José Genoino, que – a propósito da incursão da entidade policial à presidência da Caixa Econômica Federal – disse que a Polícia Federal estaria ‘sem controle’. Bom seria se em tantos outros campos, onde a exigência de competência técnica é uma notória condição de eficiência do serviço que o Poder Público oferece à comunidade, também prevalecesse, como critério de investidura e funcionamento, um sentido de independência, em nada reduzido (e, pelo contrário, fortalecido) pela vontade política dos governos, em apoiá-lo’.