Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Falta polêmica na opinião publicada

O semanário Expresso, o mais importante periódico português, vendendo em média 128 mil exemplares, entrou em 2006 com um novo diretor, Henrique Monteiro, 16 anos de casa. Ele substitui José Antonio Saraiva, que conduzia o jornal desde 1984.

Importa comentar essa mudança aqui porque a primeira decisão anunciada por Monteiro foi a de ampliar o número de colunistas do Expresso.

E isso importa por causa da sua explicação para a iniciativa. “Num jornal não há nenhum painel que fique fechado, uma vez que não é uma realidade estanque”, argumentou. “E o Expresso está sempre interessado nas opiniões inteligentes deste país.”

No Brasil, quando a ditadura começou a dar sinais de que iria para a UTI e de lá só sairia para a morgue, a Folha se destacou na grande imprensa por ser a primeira a sacar que o público estava com fome de opiniões – inteligentes, sem dúvida, provocadoras, decerto, mas também, ou principalmente, diversificadas.

Isso foi decisivo para tornar o jornal o preferido do leitorado jovem. Hoje em dia, não existem órgãos de mídia brasileiros sem, como diria Henrique Monteiro, um “painel” de autores – jornalistas, ou não, que escrevem o que pensam e assinam em baixo.

A internet, por sua vez, ampliou exponencialmente o espaço para opiniões, nas edições on-line de jornais e revistas, nos sites dos provedores de acesso, nas publicações eletrônicas de caráter jornalístico e, enfim, nos blogs – uma parcela cada vez maior dos quais, por sinal, hospedada nos portais da mídia convencional ou por ela patrocinada.

Mas nunca será descabido cobrar mais opinionismo inteligente na imprensa escrita, falada e televisionada, como já foi moda dizer.

Primeiro porque ela tem a obrigação de ajudar a expandir o debate público no país e, quem sabe, melhorar a sua qualidade, que não é propriamente uma Brastemp.

Segundo, porque é um bom negócio para a imagem não só de jornais e revistas, mas também de emissoras de rádio e TV.

Pesquisas indicam que a credibilidade da mensagem jornalística, em sentido amplo, tende a ser maior quando o mensageiro tem nome, voz e cara.

Isso não quer dizer, evidentemente, que todos os nomes, vozes e caras sejam sucessos automáticos de público. Mas o essencial é que o consumidor de jornalismo se cansou de produtos pasteurizados e de encontrar a mesma mercadoria nas diversas mídias onde se abastece.

É verdade que muita gente só gosta de ler e ouvir o que praticamente só serve para legitimar, com a autoridade dos comunicadores profissionais, aquilo em que já se acredita. É da natureza humana.

Ainda assim, quero quer que a procura pelo contraditório bem-feito, a polêmica sem golpes baixos, é maior do que a oferta. De que adianta um jornal publicar uma pá de textos de análise e opinião se todos os seus autores, ou quase, pensam da mesma forma ou vêem as coisas a partir da mesma perspectiva?

Isso, para não falar nos casos de publicações em que a maioria dos artigos assinados faz coro com a chamada linha da casa, manifestada nos seus editoriais – podendo dar ao leitor a impressão de que por isso mesmo as portas do veículo se abrem para certos signatários e se fecham para outros.

Essa é uma questão que não pode ficar de fora da agenda da crítica de mídia. Os leitores bem que podiam ajudar também, pressionando as publicações a diversificar sempre mais o seu repertório de articulistas e colaboradores.

Afinal, como diz Henrique Monteiro, o novo diretor do Expresso, jornal não é uma “realidade estanque”.

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Serão desconsideradas as mensagens ofensivas, anônimas e aquelas cujos autores não possam ser contatados por terem fornecido e-mails falsos.