Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Filé clonado malpassado

A fim de dar ao leitor um respiro do enfadonho cardápio doméstico da mídia deste começo de ano, mudo de assunto e de país – mas nem tanto, porque amanhã ou depois o assunto poderá ser um prato cheio para o público brasileiro também.


Seguinte: a Agência de Segurança Alimentar e Medicinal dos Estados Unidos (FDA, na sigla em inglês) concluiu dias atrás que o consumo de carne e laticínios de animais clonados não oferece risco à saúde.


A decisão leva hoje respeitável traulitada do New York Times, no editorial ironicamente intitulado ‘Seguro como leite?’, cujos principais trechos são estes:


‘A avaliação é uma vitória para as companhias de biotecnologia e uma perda para todos os demais. Foi apressada de tal modo a se revelar mais sensível a pressões políticas e econômicas do que à segurança, no longo prazo, de animais, humanos e do mundo que habitam.


A aprovação criará um novo pesadelo de rotulagem de alimentos e o mesmo agressivo litígio que costuma bloquear qualquer tentativa de dizer aos consumidores de onde vem a sua comida.


Perguntar se leite e carne clonados são seguros não é nem a questão certa. A questão certa é por que, afinal, clonar?


A clonagem tem consequências muito piores [do que a falta de informação]. Assinala uma mudança revolucionária – da relativa casualidade da reprodução sexuada à aparente uniformidade da reprodução assexuada. Pelo fato de a clonagem criar animais geneticamente idênticos, fará diminuir o estoque genético em que se baseia a agricultura. E toda diminuição drástica da diversidade genética cria enormes riscos de saúde para uma espécie.


Clonagem não é apenas assunto de decisão da FDA. Nos diz respeito também, como sociedade. Deveríamos levantar questões mais amplas do que a FDA é capaz. A quem beneficia a clonagem? Que efeitos trará para a saúde dos próprios animais?


Mas a questão mais importante de todas é esta: estamos dispostos a julgar a adequação das novas tecnologias, levando em conta plenamente os seus complexos aspectos éticos e biológicos? Ou estamos condenados a nos render ao poder da política e dos balanços empresariais?’


Bom apetite!


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