Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Grande estréia

O Estado se criou um problema:

Repetir, com a brevidade possível, a cesta de 3 pontos que marcou ontem com as suas 124 páginas em formato revista sobre a Amazônia.

Trata-se, como sugere o nome da publicação, “Grandes Reportagens”, da primeira de uma série, embora a matéria promocional a respeito no corpo do jornal de domingo não diga uma palavra nem sobre o tema da próxima, nem sobre a data, muito menos sobre a periodicidade, ou não, da revista.

[O texto, por sinal, não precisava cair na rasa mistura de oba-oba com lugar-comum, ao dizer que ela é “um presente aos leitores”.]

A imagem da capa – o close do olho de uma arara-vermelha, fotografada pelo craque Dida Sampaio -, o título, “Ainda é possível salvar?”, e o texto da chamada, falando das experiências “que poderão preservar a mais rica biodiversidade do planeta”, remetem a um aspecto central da crise amazônica, porém não mais importante do que a sua relação com a tragédia climática, a que evidentemente está interligado.

Na revista se lê que, embora 17% da floresta já tenha virado fumaça ou tombou a golpes de moto-serra, a massa verde remanescente ainda parece capaz de retirar da atmosfera todo o carbono emitido no Brasil, seguno estimativas preliminares.

Então vamos calcar fundo o acelerador dos nossos poluentes SUVs que a mata nos absolverá?

Sem essa, se lê hoje no jornal, numa esclarecedora suite [sequência] do repórter Herton Escobar. A única solução real para as mudanças climáticas é reduzir as emissões dos gases que provocam o efeito estufa, “e não ficar pedindo crédito pelo que a natureza faz”, adverte o professor Luiz Gylvan Meira Filho, do Instituto de Estudos Avançados da USP [apresentado como especialista, mas sem a identificação da especialidade; ele é astrofísico].

A matéria explica em poucas linhas por que a vegetação amazônica neutraliza naturalmente emissões tóxicas e aonde isso conduz.

O carbono, pela fotossíntese, é incorporado aos tecidos de plantas em crescimento. Por isso, o carbono “sequestrado” pela floresta não pode servir para abater a contribuição do Brasil ao aquecimento global.

Citando o professor Gylvan, a reportagem informa que as emissões mundiais de carbono são da ordem de 7 bilhões de toneladas por ano. Deles, os oceanos capturam 2 bilhões, outros 2 bi para a biosfera (incluíndo as florestas) e 3 bi ficam na atmosfera – causando a catástrofe que os cientistas não se cansam de anunciar.

Em outros artigos neste blog, sustentei que, diante da questão ambiental, sem prejuízo dos chamados tudo-sobre – como a excelente edição inaugural da revista do Estadão -, a mídia tem de manter o assunto em foco dia sim, o outro também.

Daí a importância da suite comentada acima. Pode até ser que a idéia por trás dela seja a de “repercutir” a revista. Se for, é do jogo. O que interessa, a qualquer pretexto, é concentrar a atenção do leitor no maior problema deste mundo que está aí.