Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Grandes jornais apostam no noticiário online pago para escapar da crise

Nas três últimas semanas aumentaram os indícios de que os grandes conglomerados da imprensa mundial decidiram partir para uma jogada de alto risco na polêmica questão da cobrança de acesso ao noticiário jornalístico na Web.


 Rupert Murdoch


O conglomerado News Corporation, do bilionário Rupert Murdoch, e o seu arqui-rival, o The New York Times, anunciaram que vão passar a cobrar pelo acesso às notícias publicadas nas versões online num prazo máximo de 12 meses.


 


A decisão dos dois impérios jornalísticos acontece na sequência da reunião do Instituto Norte-americano da Imprensa (API) na qual foi discutido um plano de ação de cinco pontos baseado na cobrança do acesso às versões online de seus sócios.


 


Trata-se de uma decisão carregada de riscos porque, até agora, não existe um modelo provado na prática e capaz de garantir a auto-sustentabilidade de páginas noticiosas online. O The New York Times já cobrou acesso aos artigos de grandes nomes mas abandonou o sistema devido ao pouco impacto e às reclamações dos próprios colunistas.


 


O dilema dos jornais é que a edição impressa, que garantiu lucros altíssimos no passado, perdeu rentabilidade com a migração de leitores e anunciantes para a Web. Acontece que não houve uma migração similar em matéria de receitas, ou seja, os jornais perderam faturamento sem poder compensá-lo com o aumento de visitantes em seus páginas na Web.


 


A vulnerabilidade financeira é o principal calcanhar de Aquiles da grande mídia contemporânea, tanto que os grandes investidores na bolsa, há muito, já abandonaram a indústria dos jornais como aplicação rentável. Só ficaram os especuladores especializados em negociar massas falidas.


 


A aposta na cobrança de acesso ao noticiário online é arriscada porque o único modelo experimental de jornalismo pago na Web ainda não saiu do papel. Trata-se do projeto Journalism Online, que promete desenvolver uma fórmula capaz de lograr o que, por enquanto, ninguém conseguiu: convencer os usuários da Web a pagar pelas notícias online.


 


Até agora o projeto não despertou o entusiasmo aberto dos grandes conglomerados da mídia mundial, mas a situação tende a mudar diante da necessidade cada vez mais urgente deles encontrarem a sustentabilidade do noticiário online antes que seja tarde de mais.


 


O que complica o quadro é que o plano dos grandes jornais norte-americanos esbarra na legislação anti-monopólio na imprensa dos EUA, ao configurar uma ação coordenada com claros objetivos corporativistas. A opção pelo Journalism Online evitaria que o governo Obama vete o plano do API, criando novos embaraõs aos jornais..


 


      Para alguns especialistas em Web, como Rick Edmonds, do Instituto Poynter, a opção pelo noticiário pago na Web equivale a um “pacto de suicídio” entre os grandes jornais. Isto porque eles estariam ignorando a diferença entre o chamado noticiário genérico (atualidades) e a informação qualificada (contextualizada e reportagens investigativas). No primeiro caso, quase 90% dos usuários da Web defendem a gratuidade de acesso, enquanto no segundo, este percentual cai para menos da metade. 


 

      Assim haveria uma possibilidade de cobrança de noticiário, mas são mínimas as perspectivas de que a receita com a venda de informação qualificada chegue perto da rentabilidade quase obscena dos jornais entre os anos 70 e 90. A questão fundamental continua a mesma: o modelo anterior não funciona mais, mas os conglomerados jornalísticos resistem à idéia da perda de poder e de privilégios como condição para sobreviver no negócio da notícia.