Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Grito eletrônico “Dane-se Washington” mostra frustração que a mídia dos EUA omite

Mais de 100 mil norte-americanos entraram, até este domingo (31/8), no sistema de micro-mensagens Twitter para apoiar o irritado desabafo do jornalista Jeff Jarvis contra as manobras partidárias no debate entre Congresso e Casa Branca sobre o aumento do limite do endividamento da administração Obama.

Há uma semana, Jarvis não conseguiu conter a sua frustração sobre o jogo de empurra entre os políticos norte-americanos e despejou a sua raiva numa postagem no seu Twittercom a seguinte frase: Hey, Washington assholes, it's our country, our economy, our money. Stop fucking with it (Oi,  estúpidos de Washington, é o nosso país, nossa economia, nosso dinheiro. Parem de f…. com ele).

Nos cinco minutos seguintes, surgiu uma verdadeira avalancha de comentários, em sua maioria de apoio. A catarse coletiva gerada pelo  FuckYouWashingtonchegou aos 90 mil twits no sábado (30/7) e nesta segunda feira já tinha passado dos 110 mil . O fato acabou entrando na agenda da mídia norte-americana embora os jornais brasileiros tenham ignorado o protesto de Jarvis, que também é professor de jornalismo, blogueiro e consultor de comunicação online.

Jarvis disse que seu gesto foi uma explosão emocional ao verificar como os políticos “brincavam com a economia nacional e mundial, pensando nas próximas eleições nos Estados Unidos e sem levar em conta que estavam fazendo os norte-americanos de palhaços”. O critico da mídia, Howard Kurtz, admitiu ter ficado surpreendido com a intensidade da raiva dos eleitores de seu país, e anteviu que explosões como esta tendem a se tornar mais freqüentes por causa das facilidades de comunicação oferecidas pela internet.

 Jeff Jarvis reproduz o gesto do personagem do ator Peter Fynch, no filme Network (1976), que interrompeu a apresentação de um telejornal para pedir que os telespectadores fossem até a janela e gritassem “Eu não aguento mais”.

O caso do “Dane-se Washington” revelam o grau de insatisfação que está tomando conta da opinião pública em vários países, sem que a imprensa expresse isto em suas manchetes.  O jogo irresponsável dos políticos norte-americanos com a dívida trilionária do país provocou um ressentimento idêntico ao que a repetição dos casos de corrupção em Brasília vem gerando entre os brasileiros. Na Europa, as manifestações de já viraram rotina

Nossa imprensa dá mais atenção à insatisfação popular em países árabes do que ao que acontece aqui e que se expressa  nas cada vez mais freqüentes explosões populares de baixa intensidade em cidades e bairros da periferia de grandes capitais.

A imprensa ainda trata a internet apenas como uma curiosidade tecnológica ou modismo social, mas ela vem revelando um potencial desestabilizador como ferramenta para protestos.

Quando um professor de jornalismo, que está longe de ter a visibilidade de uma personalidade televisiva consegue mais de 100 mil simpatizantes numa semana para sugerir que os políticos de “Washinton se f….”, é porque há mais coisas no ar do que aviões de carreira,  segundo se diz aqui no Brasil.