Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Imprensa mantém influência na agenda noticiosa mas perde poder político na formação das percepções do público

Uma pesquisa divulgada pelo European Journalism Observatory (Observatório Europeu do Jornalismo) revelou que existe uma forte coincidência entre as agendas noticiosas dos jornais impressos e dos portais informativos online em 60% dos casos estudados numa amostra de 3.900 notícias publicadas da imprensa norte-americana.


O estudo — baseado em trabalho publicado na edição de dezembro da revista Journal of Mass Communication Quarterly — revela também como a agenda da imprensa online e offline está se afastando cada vez mais da lista de assuntos mais comentados em blogs, redes sociais, twitter e outros sites produzidos por indivíduos com e sem formação jornalística.


Uma amostra de notícias analisadas pelo pesquisador Scott Maier, professor associado da universidade de Oregon, indicou que além da coincidência na escolha de temas, a imprensa convencional e os portais noticiosos coincidem também no enfoque das informações publicadas.


Em compensação, apenas 1/3 dos blogs, páginas pessoais e notícias publicadas em redes sociais mostrou alguma relação com as manchetes e notícias mais importantes publicadas na imprensa. Os veículos alternativos de informação preferiram comentar e trocar informações sobre os temas incluídos na agenda da grande imprensa.


Além de confirmar o divórcio entre a agenda da mídia e a agenda dos cidadãos, as conclusões da pesquisa deixam claro, por outro lado, que os blogs tendem a ocupar um espaço semelhante ao dos talk shows radiofônicos em matéria de participação do público.


A coincidência de agendas mostra que a imprensa tradicional continua ditando as regras em matéria de temas a serem explorados pelos portais informativos. Esta tendência é explicada pelo fato de que a maioria dos jornalistas na web ainda mantém os valores e rotinas da imprensa escrita, apesar de usarem ferramentas digitais. 


Os jornalistas de portais preferem seguir rotinas conhecidas e seguras, geralmente aprendidas na imprensa tradicional, a aventurar-se na busca de uma agenda baseada na interação com os usuários. O primeiro comportamento procura preservar a segurança e o controle, enquanto a conversa com os leitores pode desestabilizar práticas consolidadas há muito tempo nas redações.


A questão não é tanto o problema da segurança e controle nas rotinas de produção noticiosa, mas o de aproveitar os recursos da interatividade permitidos pela internet para promover a inclusão do público no processo de produção informativa. A diferença está aqui e não em polemizar sobre uma eventual maior ou menor segurança, como sinônimo de credibilidade, nas informações produzidas a partir da interatividade com usuários.


A divergência de agendas mostra que mesmo no ambiente online sobrevivem as rotinas e valores do jornalismo impresso, apesar de já terem se passado mais de dez anos desde o surgimento dos primeiros portais informativos online.


Em maio de 2010, o Pew Center publicou os resultados de uma pesquisa nos Estados Unidos mostrando que 44% dos norte-americanos já se informam preferencialmente a partir de blogs, twitter, email, fóruns e redes sociais.


A pesquisa também constatou que a maioria do material publicado em blogs ou comentado em redes sociais tem origem na imprensa convencional. Isto mostra como os portais online e versões web de jornais impressos ainda influem na agenda de discussões do público, mas indica também um fenômeno não menos importante: a imprensa está perdendo rapidamente o poder de enquadrar ou contextualizar as informações, como aconteceu nos últimos 200 anos.


Ela fornece os fatos duros e os blogs, páginas pessoais, twitter, fóruns e redes sociais se encarregam da contextualização. Com isso, o poder político da imprensa convencional fica muito limitado, porque ela já não pode mais influir de forma decisiva na maneira como as pessoas desenvolvem percepções e opiniões.


A contrapartida é que começamos a entrar num período de grande complexidade informativa, com versões e percepções muito diversificadas graças ao ingresso de milhares de pessoas na blogosfera, o ambiente informativo dos blogs.