Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Internet gera um novo leitor e novos desafios para o público


Pode parecer estranho, mas a maioria esmagadora dos jornalistas ainda não se deu conta que está produzindo notícias para um público que está mudando rapidamente de comportamento.


De consumidores passivos, os leitores, ouvintes, espectadores e internautas estão ingressando na categoria de público ativo e muitas vezes incômodo.


O fenômeno da mudança de comportamento precisa ser estudado e discutido com a maior urgência não apenas entre os jornalistas e comunicadores, como também pelo próprio público, que ao deixar de ser passivo assume novos desafios e responsabilidades.


Entre os jornalistas predominam duas atitudes: aceitar o protagonismo dos leitores, ouvintes, espectadores e internautas, o que implica abandonar o unilateralismo informativo; e rejeitar toda a mudança, continuando a agir como se nada tivesse acontecido.


No público, a principal reação à nova realidade é uma espécie de euforia questionadora, na qual tudo passa a ser posto em dúvida, cobra-se qualquer coisa, discute-se os mínimos detalhes e as polêmicas tendem a eternizar-se por conta de preocupações personalistas.


Se entre os jornalistas há situações intermediárias entre os dois extremos mencionados, também no público há variáveis. Por isto é necessário relativizar a discussão, mas o importante é iniciá-la.


Os dramas e dilemas dos jornalistas diante da nova realidade tem sido tratados aqui em várias oportunidades, mas é necessario que a situação do público também seja colocada em pauta.


Depois de décadas de impotência, diante da hegemonia dos jornalistas e comunicadores na formação da agenda pública de debates, os cidadãos assumem um novo papel mas ainda não conhecem os seus limites e condicionamentos.


A exploração e ocupação dos novos espaços está sendo feita de forma intuitiva e emocional, o que é perfeitamente explicável e inevitável diante do longo tempo em que a participação era quase impossível.


A observação dos comentários postados em vários weblogs nacionais, incluindo o Código Aberto, mostra um comportamento comum: metade dos participantes se atém ao tema do texto postado enquanto a outra metade aborda outros assuntos.


A divisão tem uma explicação clara. O primeiro grupo está mais preocupado com as questões levantadas pelo autor do blog, não importa se para concordar ou discordar. Já o segundo grupo usa o espaço e a audiência do blog para colocar temas que tanto podem ser pertinentes, mas fora de contexto, como podem ser consequência de um esforço para colocar preocupações pessoais.


Enquanto uns utilizam o espaço aberto à participação para participar do processo de formação de uma inteligência coletiva em torno de um tema ou preocupação, os outros funcionam como franco atiradores ou marqueteiros de posicionamentos pessoais ou políticos.


Tanto uma atitude como a outra são perfeitamente válidas porque respondem à duas realidades concretas. Uns querem discutir e outros desejam promover alguma coisa.


O ambiente de liberdade informativa criada pela internet e pela Web permite que ambas as preocupações possam ser desenvolvidas sem restrições mas para que se tornem efetivas é necessário que haja uma segmentação de interesses.


Isto já está acontecendo atualmente a nível dos autores de weblogs mas ainda não é uma realidade entre, pelo menos metade, dos comentaristas, o que leva a discussão para dentro do público e implica algumas consequências:


1) Em cada blog, o conjunto dos comentaristas tende a formar uma comunidade que se aglutina em função de interesses comuns. No caso do Código Aberto, o foco é o debate sobre novas formas de jornalismo na Web e as mudanças na ecologia informativa no Brasil e no Mundo.


2) Os comentaristas que abordam outros temas introduzem, na troca de idéias, preocupações que poderiam ser colocadas em discussão com muito mais efetividade noutros weblogs, ou até mesmo, motivar a criação de um blog especifico, já que nada impede que isto aconteça.


Este blog continuará aberto a todos os comentaristas. O que estou colocando para o grupo é a preocupação em manter o foco e não dispersarmos a troca de idéias para tratar de outras organizações e outros personagens.