Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Jornais da Colômbia e da Venezuela noticiam que música de Caetano Veloso é apologia ao terrorismo


A fobia que as empresas de mídia latino-americanas nutrem por Hugo Chávez, o presidente da Venezuela, já produziu mentiras, meias-verdades e disparates. Nunca, porém, havia chegado às raias do non-sense como a notícia publicada no colombiano El Tiempo e prontamente repercutida por seus similares venezuelanos, El Universal e El Nacional. Todos publicam hoje que as transmissões experimentais da Telesur, a cadeia de televisão da América do Sul idealizada por Chávez para dificultar outro golpe de estado patrocinado pelas redes de tevê venezuelanas, está utilizando uma música de Caetano Veloso para enaltecer a organização terrorista basca ETA (Euskadi ta Askatasuna). Segundo denúncia dos serviços de segurança colombiana, prontamente abrigada pelos jornais, a rede de tevê está ardilosamente utilizando a música ‘A luz de Tieta’, composta para o filme de Cacá Diegues, inspirado no romance ‘Tieta do agreste, pastora de cabras’, de Jorge Amado. A ‘inteligência’ colombiana viu apologia ao terror no estribilho ‘eta, eta, eta, eta…é a lua, é o sol, é a luz de Tieta, eta, eta, eta…’



‘Entre as peças audiovisuais’, repercutiu o El Universal de Caracas, ‘a imagem de uma jovem que cantando uma canção cujo estribilho é ‘eta, eta, eta’. Para investigadores colombianos, a canção ‘é uma clara alusão ao grupo terrorista basco’’.



A música de Caetano Veloso entrou de gaiata na história. O governo colombiano, com razão, incomodou-se com outro conteúdo da rede, que tem como responsáveis os governos da Argentina, Uruguai, Venezuela e Cuba. Diz o El Tiempo: ‘Nas imagens aparece uma mulher cantando ‘eta, eta, eta’, uma foto do guerrilheiro das Farc ‘Tirofijo’ (Manuel Marulanda Vélez ou Pedro Antonio Marín) e imagens de uma passeata na qual manifestantes gritam palavras de ordem contra o governo (colombiano) e mostram cartazes nos quais apontam as Forças Militares como autoras de recentes massacres e rechaçam as políticas governamentais’.



Os jornais foram cobrar satisfação do diretor da rede, Aran Anharonian, que reagiu com um protesto. ‘Já está na hora dos críticos conhecerem a cultura latino-americana’. Sobre os demais conteúdos que geraram a celeuma, nenhuma palavra – apenas a garantia de que a futura rede de televisão, que entra em operação no final deste mês, ‘não tem intenção ideologizante e busca colaborar com o processo de integração dos povos’. Com o silêncio, o governo de Chávez mantém a fobia da imprensa.