Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Jornais ou blogs, quem faz a notícia dentro da notícia?

Duas pesquisas estão provocando muita polêmica entre jornalistas e blogueiros porque tentam responder a uma pergunta que tira o sono dos executivos da imprensa: quem tem mais capacidade de formar opinião, os jornais ou os blogs?


 


Quatro especialistas das universidades Cornell e Stanford, ambas nos Estados Unidos, acabam de publicar um trabalho no qual afirmam que uma notícia vira tema de jornais impressos duas horas e meia antes de tornar-se o assunto do momento entre os blogs na internet.


 


O jornal The New York Times interpretou os dados do estudo como uma evidência de que a imprensa escrita continua determinando a agenda de interesses do público e que os blogs funcionam mesmo é como caixa de ressonância.


 


Já o jornalista e marqueteiro amador Bill Wasik, editor sênior da revista Harpers, lançou na semana passada o livro  And Then There’s This (E então isto aconteceu, em tradução livre) no qual estuda a disseminação de informações na web, em especial as que circulam no formato boca-a-boca.


 


Wasil tornou-se famoso na imprensa norte-americana por ter promovido em 2003, em Nova York, a primeira flash-mob — um tipo de manifestação relâmpago em que as pessoas são convocadas pela internet ou por telefones celulares. No seu livro, ele diz que uma notícia circula com mais velocidade na web quando ela pode ser usada para reforçar a artilharia verbal de grupos em confronto.


 


Ambos os estudos se dedicam a investigar a propagação viral de informações. O documento dos cientistas usou métodos importados da biologia molecular para investigar como as memes (unidades de informação) circulam na internet. Já Bill Wasik usou os resultados de suas experiências com marketing viral na rede para construir as suas teorias.


 


A propagação das informações na web tornou-se um tema badalado  entre os pesquisadores porque pode fornecer elementos chaves para os tomadores de decisões e os formadores de opinião determinarem quando e como uma notícia tem os elementos que fazem as pessoas passá-la adiante.


 


Embora o The New York Times tenha apresentado a pesquisa Meme-tracking and the dynamics of the news cycle como uma evidência da superioridade dos jornais impressos na determinação da agenda pública, a maioria dos estudiosos da internet — como o jornalista, escritor e pesquisador Chris Anderson — assinalaram que os blogs mostram uma capacidade muito maior do que a dos jornais para repercutir um mesmo fato, dado ou notícia.


 


A pesquisa foi feita antes da explosão do fenômeno Twitter e suas conclusões devem ser vistas agora num contexto diferenciado, principalmente depois da morte do cantor Michael Jackson, quando, nos Estados Unidos, a notícia circulou na internet bem antes e muito mais rápido que a própria televisão.


 


O fato é que atualmente já não é mais possível tratar a imprensa escrita e o conjunto dos blogs e twitters como ambientes separados e muito menos como entidades em conflito. A pesquisa tomou o site Google News como parâmetro para distinguir a imprensa convencional dos blogs. Acontece que entre os 4.500 jornais monitorados pelo mecanismo de busca e publicação de notícias há pelo menos 500 blogs, o que por si só já altera a representatividade da amostra.


 


A imprensa e os blogs estão interligados porque de nada adianta publicar primeiro se a notícia não circula e não entra na agenda. Os jornais levam uma vantagem natural sobre os blogs porque têm um sistema voltado para a captura, processamento e publicação de noticias. Já a maioria dos mais de 120 milhões de blogs espalhados pelo mundo é produzida por indivíduos, tem reduzida capacidade investigadora mas, em compensação, são mais adaptados para o comentário e a opinião.


 


Por mais que se procure dar um caráter competitivo e até conflitivo à relação entre imprensa e blogs, o fato concreto é que ambos estão condenados a conviver porque são parte integrante do processo de circulação destas “moléculas informativas”  chamadas memes e que são as responsáveis por tudo aquilo que sabemos.