Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Jornal se antecipou aos juízes

Do Estado de hoje: “Estudo revela que é rara punição de autoridades”.

Revela?

Sem demérito nenhum para o estudo da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), segundo o qual o Supremo Tribunal Federal jamais condenou um réu ali processado por ter direito ao foro privilegiado, esta foi a manchete do Globo de 18 de junho:

“Supremo Tribunal Federal não condenou autoridade alguma nos últimos 40 anos”.

O título encabeçava a segunda de uma estupenda série de reportagens sobre a impunidade nacional – “O Brasil vive o crime sem castigo”. Começou um dia antes e terminou no último domingo, 1º de julho.

Faço o registro porque seria esperar demais da concorrência que, na hora de abrir espaço para o justo movimento da AMB pelo fim do foro privilegiado, tivesse a elegância de creditar ao Globo a primazia do alerta.

A série é um verdadeiro “tudo sobre”, como se diz nas redações: um acervo completo das modalidades de delitos cujos autores continuam por aí, lépidos e fagueiros nos seus colarinhos brancos, e um retrato detalhado dos porquês dessa aberração.

Ou, dito de outro modo, por que o crime compensa quando os acusados, entre muitos outros visitados pelo jornal, se chamam Marcos Valério, Edemar Cid Ferreira, Zélia Cardoso de Mello, Ronaldo Cunha Lima, Edmundo, Antonio Marcos Pimenta Neves – e o símbolo por excelência [sem trocadilho] do escândalo judicial que o Globo denunciou: Paulo Salim Maluf.

E por falar na figura, beleza pura a traulitada que a colunista Barbara Gancia dá hoje na Folha no cônsul-geral americano em São Paulo, Christopher McMullen, por ter convidado para a recepção da data nacional dos Estados Unidos, o 4 de Julho, o indigitado político.

Em vez de cair na armadilha do moralismo estéril, gênero “onde já se viu?”, Barbara levantou uma questão substantiva: o convidado não apenas está sob investigação do implacável promotor nova-iorquino Robert Morgenthau, por lavagem de dinhiero, como este pediu que ele seja preso se puser os pés nos EUA.

Raciocina a colunista: “O consulado é território norte-americano e, nos Estados Unidos, o ex-prefeito continua sendo pessoa indesejável.”

E por falar na recepção do Fourth of July, um tesouro como material para reflexão a foto publicada anteontem, também na Folha, mas na coluna de Monica Bergamo, que mostra em animada tertúlia o supra-citado Doutor Paulo, o ex-governador Orestes Quércia e o expert em gravatas de grife, rabino Henry Sobel.

Como costumava escrever o genial Millôr, “pano rápido”.

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