Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Maniqueísmo da imprensa desvaloriza debate sobre juros

Os números estão em todos os jornais de hoje: mesmo tendo feito o terceiro corte seguido na taxa básica dos juros (Selic), a dívida pública no que vai deste ano cresceu para R$ 127,08 bilhões, dos quais o fermento dos juros responde por R$ 114,08 bilhões. Em miúdos, esses indicadores ilustram uma das críticas da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que ganharam relevância nas últimas semanas– a de que a política econômica ‘enxuga gelo’.


Não há o que contestar, por mais simpatia e admiração que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, arranque da oposição e dos grandes jornais nas suas idas às comissões do Senado e da Câmara. Todos os editoriais publicados nos grandes jornais desde 9 de novembro passado, dia da entrevista da ministra ao O Estado de S.Paulo que alimentaria a expectativa de queda de Palocci, bateram pesado nas considerações da ministra com a simplificação de que ela defendia a ‘gastança’.


Essa redução da inteligência no debate colocou os ministros em rota inevitável de colisão, e com a colaboração de doses fartas de radicalismo e maniqueísmo da imprensa: Dilma passou a ser vilã no duelo com o mocinho Palocci.


Dois textos dos jornais de hoje tentam recolocar as coisas em seus lugares.


O primeiro deles, ‘Racionalidade na planilha’, assinado por Luís Nassif, na Folha de S.Paulo, vai direto ao ponto ao mostrar que, há décadas, o predomínio de ‘certo vezo da cobertura política e econômica de radicalizar as diferenças’. Para ele, a ênfase do noticiário fez com que ‘Dilma foi acusada de tentar mudar o modelo econômico, de propor a volta da gastança e coisas do gênero’, relegando a importância secundária o que está realmente em discussão.


O colunista pontua as diferenças entre os dois ministros e conclui: houve exagero na conclusão de que a posição defendida por Dilma ministra colocou em xeque o modelo econômico.



‘O que Dilma fez na entrevista – e antes, nos embates internos do governo’ -, diz Nassif, ‘foi demonstrar o anacronismo desse modelo de gestão financeira. Isso não significa questionar modelo econômico nenhum nem propor populismo fiscal. Significa impor um pouco de racionalidade na planilha’.


Recomenda-se fortemente a leitura de todo o artigo na íntegra.


Sem mencionar o papel da imprensa no debate, o colunista Celso Ming, do O Estado de S.Paulo, colabora com o texto ‘Os juros e as expectativas’, que também acrescenta inteligência para o debate da polêmica do dia – afinal, o BC poderia ter cortado os juros além do meio ponto anunciado ontem ?


Celso Ming conclui que, ‘aparentemente sim’, por conta dos vários indicadores favoráveis dentro e fora do Brasil, mas pondera que há ‘outro ponto a examinar’ na trajetória dos juros:



‘Do ponto de vista estrito da execução do sistema de metas de inflação, se o Copom passou do ponto, não deve ter passado demais, uma vez que as projeções apontam para uma inflação (em 2005) de algo acima dos 5,1%, que é a meta adotada – e ninguém está considerando aqui se essa meta está adequada ou não. E, mesmo se tivesse passado do ponto, seria mais fácil compensar o excesso com um corte ainda maior dos juros do que correr atrás do resultado se tivesse ocorrido o contrário’.


Recomenda-se fortemente a leitura de todo o artigo na íntegra.