Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Mulheres, imprensa e literatura

A romancista e jornalista espanhola Rosa Montero diz no livro de ensaios A Louca da Casa (publicado no Brasil em 2004) que fica furiosa quando lhe perguntam, como sempre fazem: 1) Existe uma literatura de mulheres? E 2) O que prefere ser, escritora ou jornalista?


No tópico “O jornalismo é unissex?”, lemos que Alzira Abreu, na pesquisa para o livro Elas ocuparam as redações, chegou à conclusão de que a presença crescente de mulheres não modificou o jornalismo. Pelo menos não até aqui.


Rosa Montero dá uma pista sobre o assunto ao afirmar que não existe uma literatura de mulheres. E propõe: “Pode-se fazer o teste de ler trechos de romances para alguém e tenho certeza de que o ouvinte não descobrirá o sexo dos autores em proporção maior do que o mero acerto estatístico. Um romance é tudo o que o escritor é: seus sonhos, suas leituras, sua idade, sua língua, sua aparência física, suas doenças, seus pais, sua classe social, seu trabalho… e também seu gênero sexual, sem dúvida alguma. Mas isto, o sexo, é apenas um ingrediente entre muitos outros”.


Na resposta à segunda pergunta afastamo-nos da questão do gênero. Mas vale a pena citar. Montero diz que há muitos tipos diferentes de jornalismo e aquele a que se dedica, o “jornalismo de pena, de articulista e repórter, é um gênero literário como outro qualquer, comparável à poesia, à ficção, ao drama, ao ensaio. E pode atingir níveis de excelência literária tão altos quanto um livro de poemas ou um romance, como demonstra A Sangue Frio, de Truman Capote, uma obra monumental que na verdade não é nem mais nem menos que uma reportagem. (….) Se repassarmos a lista de escritores dos dois últimos séculos, veremos que pelo menos a metade, e provavelmente mais, eram jornalistas. E não estou me referindo a Hemingway e García Márquez, que são os nomes estereotipados que sempre se citam, mas a Balzac, George Eliot, Oscar Wilde, Dostoiévski, Graham Greene, Dumas, Rudyard Kipling, Clarín, Mark Twain, Ítalo Calvino, Goethe, Naipaul e muitíssimos mais, tantos que não acabaríamos nunca de citar”.


Rosa Montero escreve para El País, que por essas e muitas outras é hoje talvez o jornal mais importante da Europa fora da Inglaterra.