Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Negativo inoperante

Correndo por fora do previsível escarcéu da mídia com a Operação Navalha, o Valor emplacou hoje um furo de arrepiar.

O repórter Thiago Vitale Jayme, da sucursal de Brasília do jornal, capturou um documento oficial da FAB contendo 150 ‘relatórios de perigo’ registrados pelos controladores de vôo da capital federal entre setembro e novembro do ano passado.

O Gol da Boeing se chocou com o Legacy da Excel Air em 28 de setembro.

‘Os dados’, esclarece a matéria, ‘revelam os problemas apenas da área controlada pelo Cindacta I, que responde por 2/3 do tráfego aéreo nacional, no equivalente a uma área de 1,5 milhão de km² (três vezes o território da França).’

Ou, como se lê no site do Centro, o polígono formado por Goiás, sul de Tocantins, parte do sul de Mato Grosso, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo.

O documento é uma pauta pronta para as CPIs da Câmara e do Senado sobre o apagão aéreo.

Exemplos de situações perigosas:

No dia 22 de novembro, o radar de Três Marias (MG), segundo relatório de perigo, ‘tornou-se inoperante’ das 17h10 às 18h30.

Nessa mesma data, um controlador fez um desabafo em seu relatório: ‘Fica registrado que o setor S06 da região BR do ACC-BS (de Brasília) tem se tornado muito desgastante, estressante e perigoso para o tráfego aéreo no local, devido às várias e repetidas panes de freqüências dos seus limites’, escreveu o controlador.

Ainda no dia 22 de novembro de 2006, foram apontadas duplicações de pistas na tela dos monitores dos vôos Gol 7472, Gol 1844, TAM 3507 e Varig 2634 na região de São Paulo.

No mesmo dia 22 de novembro, na região do Rio de Janeiro, a duplicação de pistas também ocorreu nos vôos Gol 1845, TAM 3139 e FAB 5933.

Das 22h10 do dia 19 de outubro de 2006 à 1h do dia 20, o Centro de Controle de Área de Curitiba informou ‘pane parcial de freqüências e pane total de visualização radar na sua FIR (região)’. Neste dia, o aeroporto de Curitiba ficou parado durante 30 minutos.

Às 20h do dia 3 de outubro de 2006, o Destacamento de Controle do Espaço Aéreo de Santa Teresa (ES) relatou ‘eco e interferência de rádio pirata’ na freqüência 134.750 MHZ, usada para o controle aéreo.

No dia 1º de setembro de 2006, o Destacamento de Controle do Espaço Aéreo da Chapada dos Guimarães (MT) detectou ‘duplicação de pistas’ às 16h. No relatório, há indícios de que o problema era recorrente.

Às 20h do dia 3 de outubro de 2006, o Destacamento de Controle do Espaço Aéreo de Três Marias (MG) detectou ‘interferência de telefonia celular’ na freqüência 135.550 MHZ.

Às 22h20 do dia 1º de outubro, o radar primário do Destacamento de Controle do Espaço Aéreo de Três Marias (MG) estava ‘inoperante’.

Às 15h55 do dia 5 de novembro de 2006, o Destacamento de Controle do Espaço Aéreo de Três Marias (MG) apontou a ‘criação de pistas falsas’ nas telas dos monitores.

Às 12h25 do dia 14 de novembro de 2006, o radar do Destacamento de Controle do Espaço Aéreo de Barra do Garças (MT) estava ‘inoperante’.

Às 12h32 do dia 22 de novembro de 2006, foi a vez do radar do Destacamento de Controle do Espaço Aéreo do Pico do Couto (RJ) ficar ‘inoperante’.

À meia noite do dia 15 de novembro de 2006, o monitor do próprio Cindacta I apontava ‘pista falsa’.

Há diversas ocorrências que apontam falta de recursos do Cindacta I. No dia 29 de setembro, há a reclamação de falta de cinco impressoras de computadores. Outras três ocorrências, dos dias 13 e 19 de outubro, dão conta de monitores com imagens distorcidas.

É de pensar duas vezes antes de andar de avião por este país.

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