Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Notícia de mordomia leva 15 anos para sair

Você sabia que a Câmara dos Deputados dá assistência médica gratuita aos mais de 470 jornalistas ali credenciados e às suas famílias?

Esta na Folha de hoje. Com um detalhe:

O benefício existe há pelo menos quinze anos – e, aparentemente, nunca ninguém publicou uma palavra sobre a mordomia. Segundo o jornal, o privilégio custou ao contribuinte no ano passado cerca de R$ 190 mil por 1.874 consultas ambulatoriais.

A revelação faz lembrar que até meados dos anos 1960 jornalista brasileiro tinha desconto de 50% em vôos domésticos e internacionais – presente de Getúlio Vargas aos meios de comunicação para baratear os custos de suas reportagens. Mas, para obter a meia passagem, o profissional nem precisava provar que estava a serviço: bastava dar a carteirada.

Resquício disso continuou a existir na Câmara até a década passada, informa também a Folha:

”Era comum a Casa bancar viagens internacionais de repórteres qpara que eles acompanhassem deputados ou participassem de eventos. Além das passagens, a Câmara pagava uma diária de US$ 200.”

”Acompanhar deputados” é uma expressão vergonhosa. Porque eles viajam quase sempre a passeio, sob a aparência de viagens de estudos, e os coleguinhas compartilhavam com eles do seu dolce far niente.

Escrevam para este blog os leitores que se lembrarem de alguma manifestação contrária a essas obscenidades de órgãos da corporação – Sindicatos de Jornalistas, a Federação Nacional de Jornalistas e Associação Brasileira da Imprensa.

E já que trouxe à luz o bem-bom da saúde dos profissionais credenciados na Câmara, a própria Folha poderia dar uma geral pelos outros poderes federais e pelos Estados e municípios para identificar outras impropriedades do gênero.

Como qualquer assalariado, jornalista só deve ter os direitos trabalhistas assegurados na legislação. Receber qualquer benefício direto ou indireto, além daqueles, é passar uma rasteira na ética do ofício.

Pois, já dizia o economista Milton Friedman, não existe essa coisa chamada almoço grátis. Alguém sempre estará pagando a conta.

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