Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

O primeiro formador de opinião

O presidente Lula voltou a dizer no fim da semana que a era dos formadores de opinião no Brasil acabou em 2006, quando ele se reelegeu.

As pessoas já não se deixariam levar pelo que os articulistas escrevem, disse o presidente. Parece mais complicado do que isso.

Nas sociedades de massa, é impossível imaginar como a realidade possa ser percebida e avaliada sem a intermediação da mídia. As situações são amplas demais e intrincadas demais para que se tenha conhecimento delas a partir da experiência própria ou do círculo de relações de cada qual.

Mas quando se fala em mídia, cuidado com as generalizações. Decerto não são os artigos da imprensa que fazem a cabeça da esmagadora maioria dos brasileiros. Mas algo faz: é a televisão.

O presidente Lula não teria os índices de popularidade de que se orgulha – e que teriam sido alcançados, segundo ele, apesar da contra-corrente da imprensa – se o seu desempenho e as políticas de seu governo não fossem notícia dominante nos telejornais e se ele não fosse ali presença constante, com o seu imenso talento para falar com o público.

Não vai nisso nenhum juízo de valor sobre uma coisa ou outra. É apenas a constatação de que o presidente da República tem a hegemonia praticamente absoluta da comunicação política no país.

Ou, como já se escreveu, ele é o grande pauteiro da imprensa brasileira.

Como é que isso não teria consequências decisivas na formação das opiniões? Nesse caso, Lula, o comunicador, funciona como um avalista da experiência pessoal de milhões de pessoas nestes últimos anos de bonança econômica e redução da pobreza – ainda mais na ausência do chamado contraditório, que caberia às oposições proporcionar.

De qualquer maneira, não é que a mídia deixou de formar opinião. É que ela o faz numa situação muito peculiar, criada pela competente política de comunicação do Planalto e “estrelada” pelo presidente da República, o formador de opinião com o maior acesso à mídia que conta para o conjunto da população.

P.S [Acrescentado às 9:00 de 21/10]

Até que nível de irrelevância pode chegar a cobertura de uma campanha eleitoral?

Dificilmente aparecerá uma resposta melhor, com perdão da palavra, do que a das 11 linhas finais de uma matéria do Estado de hoje. O texto fala da participação do senador Eduardo Suplicy num evento da ex-mulher no bairro do Campo Limpo:

‘Ao descer do banquinho [onde subira para pedir votos para Marta], Suplicy quase caiu. Foi amparado pelo deputado José Genoino (PT-SP). Da janela de um ônibus, um eleitor gritou: ´Eu te amo, Suplicy.` ´Obrigado´, respondeu ele, sem ver quem era o fã. Em seguida, perguntou para os repórteres: ´Era homem?´. Diante da resposta positiva, caiu na gargalhada.’