Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

O primeiro mandamento da imprensa de esgoto

Acabou agora há pouco, da forma como costumam acabar essas tragédias, o suspense em torno da sobrevivência dos 12 trabalhadores soterrados dias atrás por uma explosão na mina de carvão Sago, na Virgínia Ocidental.

Os jornais americanos fecharam ontem com a esperançosa especulação, transmitida pela empresa proprietária da mina, de que 11 dos 12 ainda poderiam ser resgatados com vida.

Verificou-se o contrário: 11 estão mortos e o décimo-segundo, hospitalizado.

Há 55 anos, o genial Bill Wilder dirigiu o que se revelaria o melhor filme de todos os tempos sobre o jornalismo sensacionalista, “The Big Carnival”, exibido no Brasil como “A montanha dos sete abutres”.

É a história do repórter inescrupuloso vivido pelo também genial Kirk Douglas que faz o que sabe e o que não sabe para manter soterrado, dia após dia, um mineiro vítima de um acidente, a quem consegue ter acesso exclusivo, tudo para vender jornal.

Enquanto ele trata de impedir que o trabalhador seja resgatado e namora a sua mulher, a quentíssima Jan Sterling, forma-se em volta da mina o carnaval que serve de título para o filme.

No fim, naturalmente, o operário morre e o repórter parte para outra.

É desse filme a fala definitiva sobre a imprensa de esgoto: “Quando a ficção for mais atraente do que o fato, publique-se a ficção.”

Em nenhuma parte do mundo faltam jornalistas – ou parajornalistas, como escreveu Luís Nassif na Folha a propósito de um deles, no Brasil –, para quem a sórdida sentença será sempre o primeiro mandamento do ofício.

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