Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

O promotor sobe ao picadeiro e dá à imprensa mais defuntos frescos


Palhaçada. Esta talvez seja a palavra que traduza com mais precisão o picadeiro midiático montado pelo promotor Sebastião Sérgio da Silveira. Desta vez, a imprensa teve quase nenhuma culpa pelos prejuízos causados na economia. Tampouco pelos lucros auferidos pelos especuladores.

A irresponsabilidade do promotor bateu no Supremo Tribunal Federal (STF). O ministro Gilmar Mendes ocupou uma das reportagens do Jornal da Cultura, de São Paulo, para cobrar mudanças na política de divulgação de depoimentos de acusados contra terceiros.

Trata-se de um bom sinal, pois o Poder Judiciário não pode engolir a reação corporativista dos promotores de São Paulo, alegando que o colega nada fez de errado porque o caso não está sob sigilo. São desculpas esfarrapadas como essa que entulham a legislação de formalismos que alimentam chicanas e só fazem alimentar a impunidade.


Em períodos como o que o país atravessa, a imprensa quer – em número cada vez maior – defuntos frescos, não importa o peso, a quantidade nem a origem. E o promotor Sebastião Sérgio da Silveira os deu. Numa das boas reportagens do Jornal Nacional sobre o caso, foi frisado que ele deixou várias vezes a sala de interrogatório para saciar os jornalistas.


A intimidade com que o promotor tratou as acusações merece investigação: qual o interesse político e/ou econômico de Sebastião Silveira, que não teve sequer o cuidado para se referir a Antonio Palocci como então prefeito do período em que foram cometidas as irregularidades, mas sim ao ‘ministro’.


Outro detalhe que não pode passar despercebido no circo é a vestimenta do acusado e depoente, que fez as graves denúncias sem a companhia de advogado. Rogério Buratti chegou ao depoimento apresentando ao país o novo modelito do macacão amarelo-laranja para presidiários de São Paulo. Depois de espalhar apreensão na economia, graças à irresponsabilidade do promotor, saiu de camisa pólo azul listrada dando chauzinho para os policiais O circo armado só confundiu ainda mais e ameaçou um dos pilares que ainda se mantêm em pé do governo Lula. No mesmo Jornal Nacional, o comentarista Arnaldo Jabor atribuiu a confusão ao grupo do deputado José Dirceu, a quem Buratti estaria ligado. Para ele, a confusão vivida hoje no mercado financeiro, e com repercussões no exterior, pode ter dois propósitos: levantar ainda mais a poeira para que se torne impossível limpar a paisagem política do Brasil ou enlamear todos com a mesma sujeira.


A imprensa erra, porém, ao não diferenciar as biografias de denunciantes e de denunciados. No começo desta semana, tivemos o doleiro Toninho Barcelona ocupando a revista Veja com o assombroso título ‘Ele quer falar’. Durante a semana, constatou-se que ‘ele quer extorquir’, conforme a opinião da maioria dos parlamentares da CPMI dos Correios – da oposição e da situação – que vieram ouvi-lo em São Paulo.


A delação premiada que os promotores de Ribeirão Preto ofereceram a Rogério Buratti ainda não está assegurada. Quem vai defini-la são os juízes dos vários processos a que o ex-assessor do então prefeito de Ribeirão Preto, Antonio Palocci, será submetido. O promotor Silveira, que deve a Buratti seus minutos de fama, certamente irá recomendar a que o réu colaborou com a Justiça.


O chefe do circo precisa enquadrar o palhaço.