Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Obama avalia uso da Web como ferramenta para uma democracia direta

São cada vez mais claros os indícios de que o presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, vai transformar a internet na sua principal ferramenta de comunicação, o que pode marcar também uma mudança radical na forma como os políticos se relacionam com seus eleitores.


 


A mesma equipe que comandou o bombardeio diário de mensagens de email do candidato democrata para quase 15 milhões de norte-americanos — e algumas centenas de estrangeiros — está sendo recrutada para a futura administração em meio a rumores cada vez mais insistentes de que Obama vai inaugurar uma política de relação direta com os cidadãos.


 


Um dos cérebros por trás desta nova estratégia é Joe Trippi, que foi assessor de Howard Dean, pré-candidato democrata nas eleições presidenciais de 2004, e considerado o pioneiro no uso da internet para fins eleitorais. Trippi, autor do Best seller The Revolution will not be Televised (A revolução não será televisionada) declarou ao jornal The Washington Post que Obama vai usar a lista de endereços eletrônicos para enviar mensagens diretas aos norte-americanos, sem passar pelas redes de televisão e pelos grande conglomerados da mídia impressa.


 


Caso isto se concretize, será a segunda vez desde 1960 que um presidente norte-americano assume o poder colocando os jornais em segundo lugar. O primeiro foi o também democrata John Kennedy, o pioneiro no uso intensivo da televisão como ferramenta estratégica de comunicação com a população.


 


Durante a campanha eleitoral deste ano, a equipe de Obama disparou uma media de 1,5 mensagens diárias por correio eletrônico para cada nome na lista de endereços eletrônicos, desde janeiro, quando o candidato democrata montou o seu comitê eleitoral online. Todas as grandes notícias da campanha, entre elas a indicação do seu companheiro de chapa Joe Binden, foram feitas em primeira mão pelo site do candidato, quebrando a exclusividade da imprensa na divulgação das grandes noticias.


 


O meu nome, por exemplo, foi parar numa das listas e desde janeiro minha caixa de correio eletrônico ficou entupida por mensagens de assessores do agora presidente eleito, de sua mulher, do candidato a vice-presidente e de personalidades como Al Gore e Oprah Winfrey, quase todos pedindo apoio político e uma doação de 10 dólares. Na semana da votação, cheguei a receber até três mensagens diárias pedindo o  compareci-
mento às urnas.  


 


O uso da internet não representa apenas a incorporação de uma nova ferramenta ao arsenal de recursos publicitários da Casa Branca. Ele pode marcar também um novo passo no sentido do fim da hegemonia dos jornais e da televisão como intermediários entre  governantes e governados.


 


A midiatização da política está entrando numa nova fase, marcada pela perda de privilégios usufruídos até agora pelos grandes conglomerados jornalísticos e pela possibilidade dos governos praticarem a democracia direta.