Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Os aliados e os inimigos do álcool


 O etanol de cana brasileiro ganhou mais um musculoso aliado: Arnold Schwarzenegger, governador do poluído Estado da Califórnia. O exterminador do futuro propõe a eliminação dos subsídios e tarifas impostos pelos EUA ao etanol brasileiro. ‘Precisamos derrubar as barreiras que criamos’, disse.
 Não faltam aliados ao etanol brasileiro. Até o Painel Intergovernamental de Mudanças Cimáticas (IPCC), o órgão da ONU que monitora os impactos do aquecimento global e aponta alternativas para mitigação, diz que o etanol da cana é mais eficiente e produtivo do que o álcool do milho.
 O álcool brasileiro tem tudo para dar certo e se transformar em uma opção eficiente aos combustíveis fósseis. A produtividade do álcool de cana é muito superior ao etanol de milho. A cana é uma gramínea e, como tal, aproveita melhor a luz do sol para converter em massa orgânica. É também auto-suficiente em seu processo de produção. A energia para você produzir o açúcar e o álcool vem da queima do bagaço, que também gera energia elétrica. O vinhoto, subproduto no processo de produção de álcool e de açúcar, é utilizado como fertilizante. O bagaço pode ser um bom alimento para o gado. Tudo se aproveita.
 Mas para conquistar o mundo, o álcool brasileiro, limpo e renovável, vai ter que remover algumas manchas no seu processo de produção. Como os negócios devem crescer, daqui para a frente a tendência é de o Brasil gente receber mais ataques do que elogios. Clientes e concorrentes do etanol brasileiro vão ficar de olho na qualidade do nosso produto, principalmente no que diz respeito a problemas ambientais e sociais. E o telhado é de vidro.
 Se o Brasil quer preservar a imagem de seu biocombustível, deve se antecipar às críticas. É isso que propôs Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura e co-presidente da Comissão Interarmericana do Etanol, ao recomendar a extinção dos bóias-frias e do corte manual de cana-de-açúcar. O trabalho do cortador é desumano e deve ser mesmo eliminado por meio da mecanização da colheita. Outro contra-senso é produzir um combustível que reduz as emissões de gases poluentes utilizando-se queimadas.
 Segundo Rodrigues, parte dos trabalhadores desempregados pelas usinas pode ser absorvida por outras áreas da agricultura. Mas a própria expansão dos canavais em São Paulo, resultado do sucesso do álcool, está criando novas vagas no setor sucroalcooleiro. Uma boa parte delas na própria mecanização da lavoura, segundo revelou José Luís Coelho, da John Deere, à revista Globo Rural (maio). Pelos cálculos de Coelho, a indústria canavieira vai precisar treinar um exército de 3.000 novos operadores de máquinas agrícolas.