Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Os retalhos do ambiente


Os jornais destacaram nos últimos dias as conseqüências do aquecimento global e a proposta brasileira de criar um fundo para financiar a redução dos desmatamentos nos países tropicais. O aquecimento global, segundo os cientistas, está ocorrendo de forma acelerada. Em 2100, as temperaturas médias da Terra serão ainda mais altas do que previam os cientistas, com sérios danos para o Planeta.


Para o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática), a temperatura do planeta em 2100 estará de 1,5°C a 5,8°C mais alta. O cenário mais provável é de uma elevação de 3°C, o que segundo os cientistas já provocaria grandes danos ao Planeta, como por exemplo o colapso da floresta amazônica.


Aquecimento global, biodiesel, etanol, Katrina, tsumani, seca nas regiões agrícolas do Sul, furacões. O que alhos têm a ver com bugalhos?


Tudo. Mas na mídia a questão ambiental é apresentada como uma imensa colcha de retalhos. Na mesma edição em que o efeito estufa ganha uma página em Ciência, o caderno de Cidades dá uma nota sobre o baixo índice de umidade do ar em Ribeirão Preto, que lota os hospitais de idosos e crianças e provoca a suspensão da queimada cana. A mesma cana, que segundo o caderno de Economia, ganha terreno no Oeste de São Paulo, devido a forte demanda por etanol no Brasil e no exterior. E a Meteorologia prevê mais seca para o Sul e o Sudeste, com a poluição do ar nos bairros paulistanos variando de inadequada a regular.


Para complicar ainda mais a cabeça do leitor, os articulistas deixam grandes interrogações no ar, como Marcelo Leite, no Caderno Mais de domingo último, na Folha.


‘O setor ambiental do governo federal pouco ou nada poderá opor à previsível avalanche de demanda por biodisel e álcool, num mundo em que a ficha do aquecimento global começa a cair. EUA, China e Índia estão na fila para comprar, mas o Brasil é o único vendedor à vista: tem 1,7 milhão de km2 de terras disponíveis com potencial para a agricultura mecanizada, um terço na Amazônia, que já sofre com o agronegócio’. E mais na frente, ele emenda: ‘Nada contra os biocombustíveis, que afinal são uma alternativa renovável aos combustíveis fósseis, como o petróleo. A não ser, claro está, que acendam o rastilho para incendiar de vez o cerrado (metade já se foi) e a Amazônia (quase um quinto)’’.


Cabe ao leitor, recortar mentalmente, aqui e ali, todas essas informações. Fazer as correlações entre um fato e outro, e montar o quebra-cabeça.