Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

PCC pela rama

O ponto de partida da atual onda de violência do PCC (o PCC que não apenas vive de explorar as condições estarrecedoras das prisões brasileiras, como foi o caso até o início desta década, mas o que passou a fazer disso plataforma para comandar criminalidade organizada) foi uma decisão do Supremo Tribunal Federal proferida em 23 de fevereiro. Reconhecia que a progressão de regime – possibilidade de encurtamento da pena por bom comportamento, entre outros fatores – vale para os chamados crimes hediondos. Está em reportagem de Chico Siqueira publicada no Estadão de sábado (9/9): “Juiz ignora TJ e concede progressão”. Já havia sido tratado neste Observatório em 15 de maio (ver “O ovo da rebelião”). Quatro meses depois, a imprensa ainda não conseguiu fazer uma discussão organizada e esclarecedora sobre o conflito que gerou as sucessivas ondas de violência terrorista em São Paulo e alhures.



O site Consultor Jurídico já publicou 314 textos sobre o tópico “crimes hediondos”. Mas no momento não tem como fazer uma contextualização do tema, segundo seu diretor, Márcio Chaer.


Lembo X Busato: frases fortes, para deleite de jornalistas, mas nenhuma contextualização


Também dá pena a maneira como se reflete na mídia a polêmica a respeito da revista e da escuta eletrônica ou não de advogados que têm contato com criminosos considerados altamente perigosos. Predomina a superficialidade do bate-boca entre o governador Claudio Lembo e o presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, Roberto Busato. Lembo, segundo o Estadão de hoje (11/9), diz que Busato “é ingênuo e desconhece a realidade”. Busato agride Lembo, acusando-o de saudosista do regime militar, “período em que serviu com muita dedicação e zelo aos então chefes militares”. Seria útil ouvir pessoas de grande saber jurídico, entre outras qualificações, para contextualizar a discussão. Seria útil repisar qual foi a trajetória de Lembo durante a ditadura – nem de longe das piores do período, segundo as fontes até aqui disponíveis -, e trazer à colação, para usar jargão do meio advocatício, qual foi, ou não, a de Busato.


Lembo diz que as escutas são feitas nos países desenvolvidos. A imprensa poderia conferir. Busato, se não estiver sendo corporativista [Aurélio: ‘referente ao, ou que é partidário do corporativismo‘. Corporativismo: “1. Doutrina e/ou prática de organização social com base em entidades representativas dos interesses de categorias profissionais: O Estado novo de Vargas inspirou-se no corporativismo fascista. 2. Ação (sindical, política, etc.) em que prevalece a defesa dos interesses ou privilégios de um setor organizado da sociedade, em detrimento do interesse público”], mostra insensibilidade, num momento em que se publicam seguidamente folhas corridas de advogadas (mais do que advogados) acusadas de trabalhar para o PCC.


Discussão mais recente, que o Consultor Jurídico pretende, segundo Márcio Chaer, atacar a curto prazo e com grande intensidade, dadas suas múltiplas e importantes implicações.


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O vértice da pirâmide


O diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, pergunta-se hoje na Folha se a apatia do eleitorado nesta campanha é generalizada ou localiza-se na ponta da pirâmide social, não na base. É uma pergunta crucial. Desdobra a coluna de ontem de Elio Gaspari.


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Publicidade invasiva


O anúncio de computador HP que está hoje nas páginas 8 e 9 do seu caderno de Economia do Estadão torna praticamente impossível para o leitor separar a ilustração publicitária do conteúdo editorial. Editores deveriam ter a prerrogativa de vetar certas modalidades de publicidade.


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A bala, não “à bala”


Tem andado em títulos e em editoriais a expressão “à bala” com “a” craseado. “A bala” não leva crase, senhores e senhoras. Não se quer dizer “com a bala”, mas “com bala”. Não se escreve, por exemplo, “abateu aos tiros”, mas “abateu a tiros”.


Hoje (11/9) a chamada para o assassinato do coronel Ubiratan Guimarães na Folha de S. Paulo sapeca que o corpo do deputado “apresentava perfuração à bala logo abaixo de um mamilo”. (No Estadão, um cochilo fez aparecer na reportagem que “o crime ocorreu quando o deputado estava sozinho em casa, segundo o delegado-geral, Marco Antônio Desgualdo”. Se estava sozinho, só pode ter sido suicídio…)


Eis o conteúdo do verbete “baleado” no dicionário Aurélio: “Ferido ou morto a bala”. No Houaiss: “Atingido por [não ´pela´] bala”.


Millôr Fernandes sustenta que a norma para crase é completamente sem sentido. Mas, como ele, embora cultor excepcional da língua, não é instância de regulação da chamada norma culta [há vinte anos Antonio Houaiss, em entrevista ao Jornal do Brasil, reconheceu que não existe nenhuma instância que se imponha de modo indisputável], é preciso seguir o que os melhores gramáticos consagraram.


Se os problemas de linguagem na imprensa fossem só dessa natureza seria o caso de festejar. Mas crase errada, especialmente em títulos e textos destacados, dói na vista.


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