Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Pesquisa identifica 35 habilidades necessárias para jornalistas que trabalham na Web


A dissertação de mestrado do norte-americano Max Magee, aluno da Escola Medill de Jornalismo (Universidade Northwestern) é um trabalho que procura identificar os requisitos básicos a serem preenchidos por um jornalista online.


Os resultados da investigação, patrocinada pela Online News Association (entidade que 800 jornalistas online de todo mundo) são especialmente úteis para a discussão sobre a reforma do ensino do jornalismo na era digital porque podem ajudar a montar uma agenda de temas para análise.


A conclusão mais importante a que chegou Magee, depois de entrevistar 438 profissionais e blogueiros independentes nos Estados Unidos e Europa, foi a de que a grande diferença entre quem escreve para a versão impressa e quem trabalha na versão online de um jornal não é o uso da tecnologias, mas a forma diferente de pensar.


Esta forma diferente de pensar seria uma espécie de síntese dos novos valores e rotinas que a web está introduzindo no jornalismo. A internet está obrigando os profissionais a pensar em formato multimídia, imaginar narrativas não lineares onde o leitor, por exemplo, cria o seu próprio roteiro de leitura, e conceber o seu trabalho dentro de um contexto social, através da interatividade com o público.


Esta constatação é crucial porque quando se pensa em atualizar os currículos das faculdades de jornalismo quase sempre a primeira preocupação que vem à cabeça de professores e gestores universitários é como treinar os alunos no uso das novas tecnologias.


Na sua pesquisa, divulgada no final do ano passado, Magee dividiu os entrevistados em dois grupos: os profissionais responsáveis por versões online de grandes empresas e jornalistas e independentes que produzem páginas noticiosas online. As respostas da pesquisa foram organizadas em quatro categorias: atitudes, edição, desenvolvimento de conteúdo e ferramentas de produção online.


No grupo atitudes, os editores de jornais online valorizaram mais as habilidades de dar atenção aos detalhes e trabalhar sob pressão, enquanto os independentes deram mais importância à capacidade de desenvolver múltiplas tarefas.


O interessante é que, segundo Magee, os editores qualificaram o aprendizado de novas tecnologias como mais mais importante para obter um emprego mas destacaram que uma vez empregado, o jornalista deveria estar sempre antenado em inovações.


Já os independentes acham que habilidades como relacionamento com usuário, trabalho em grupo e desenvolvimento de comunidades são essenciais para os que desejam criar o seu próprio espaço informativo na Web.


No ítem edição, tanto os editores como os independentes destacaram a capacidade de avaliar o conteúdo noticioso e o conhecimento do idioma como as habilidades mais desejáveis. O autor afirma que a preocupação com a concisão é muito menor no jornalismo online do que no impresso e que o profissional deve estar capacitado a editar textos, áudio e vídeo caso deseje acompanhar a evolução editorial na internet.


Na criação de conteúdo, surgiu uma divergência. Os editores valorizaram mais a capacidade de investigar enquanto os independentes deram maior peso à edição de fotografias. Ficou claro no entanto que ambos acham mais importante a capacidade de montar a narrativa com os ingredientes multimídia do que escrever o texto.


Na avaliação das habilidades tecnológicas, uma surpresa. O conhecimento do HTML , de programas gerenciadores de conteúdo e do Photoshop (edição de fotos) , os mais mencionados tanto pelos editores como pelos independentes, foram, no entanto , considerados menos importantes que a capacidade de edição.


Os interessados em maiores detalhes sobre a pesquisa podem consultar um resumo de dez páginas em inglês publicado pela Online News Association.


Conversa com o leitor
Uma das habilidades detectadas pela pesquisa é a capacidade do jornalista online de relacionar-se com seus leitores, ouvintes ou espectadores. Não basta escrever bem, investigar detalhadamente e editar com perfeição, se a interatividade não funcionar. A ferramenta comentários num blog não é um adereço tecnológico. Usá-la exige algumas habilidades inexistentes no jornalismo impresso como por exemplo a tolerância, tanto de quem escreve como de quem comenta. Estou descobrindo que, além de passar informações, os profissionais devem preocupar-se em gerar interatividade entre os leitores. Trata-se de criar uma comunidade de informação e de interesse, onde o jornalista é um prestador de serviços.