Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Pesquisadora diz que ação reativa da polícia no Rio provoca “desgaste quase insuportável”

A coordenadora de Áreas do Centro de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, do Rio de Janeiro, Silvia Ramos, diz que a situação atual na cidade a deixa perplexa, devido ao paradoxo de que uma das melhores equipes que poderiam estar no comando da segurança pública realiza uma política reativa que “traz um desgaste quase insuportável”. Silvia diz que falta uma política de longo prazo, que só o governador e sua equipe mais próxima poderiam traçar, e faltam ações que acompanhem a repressão aos bandidos. E estranha que não tenha sido feita até agora uma operação maior, capaz de suplantar a resistência dos bandidos a um custo humano, social e político menor. Mas acredita que possam ocorrer surpresas positivas.


A pesquisadora considera escandalosa a quantidade de munição com que os bandidos encastelados em determinadas áreas são abastecidos. Trata-se de armas longas, de uso restrito. No Brasil, praticamente só os bandidos do Rio de Janeiro as usam, o que circunscreveria uma investigação policial – além de serem munições bem específicas. Esses tipos de munição existem em depósitos dos governos – Polícias Militar e Civil – e federal – quartéis das Forças Armadas.


Silvia Ramos pergunta por que os serviços de inteligência desses governos ainda não fizeram algum tipo de operação para cortar o suprimento. Na primeira “batalha” da Vila Cruzeiro, em fevereiro, os bandidos sustentaram 15 horas de tiroteio com a Polícia Militar. O comandante da PM, coronel Ubiratan Ângelo, disse que os bandidos usaram volume assustador de munição.


Outro fenômeno que faz os olhos se voltarem para depósitos bélicos: abundância de granadas. Segundo a pesquisadora, há não muito tempo granadas eram artefatos raramente encontrados com bandidos e agora estão na cintura de qualquer rapaz que vai assaltar um automóvel. Em entrevista dada anteontem (18/6) ao Observatório da Imprensa, o geógrafo Andrelino Campos, que participou do segundo debate sobre a violência no Rio (clique aqui para ler), disse:


Existe alguma coisa mais adiante, que a gente não está conseguindo perceber, que movimenta quantidades de dinheiro que talvez sejam interessantes para manter a disputa. Porque só droga, atualmente, eu acho que é muito pouco. Seqüestro e outras coisas movimentam bastante, ou existe uma outra perspectiva, uma coisa bastante encoberta, que a gente não consegue detectar, que motiva essa luta desesperada por pontos de venda. Que agora eu não sei mais se são de drogas, se são de armas, de que são”.


Silvia Ramos deu ontem (20/6) a seguinte entrevista:


Eu queria ouvir sua opinião sobre o rumo que a situação da segurança pública no Rio de Janeiro tomou nos últimos meses.


Sílvia Ramos – Eu acho que a situação de segurança hoje, no Rio de Janeiro, vive um momento crítico e muito delicado, baseado no seguinte paradoxo. Nós temos hoje aqui no Rio de Janeiro uma das melhores equipes que poderíamos imaginar colocar nos postos chave da área da segurança pública, tanto na Secretaria de Segurança [José Mariano Beltrame, delegado da Polícia Federal] quanto no Comando da Polícia Militar [coronel PM Ubiratan Ângelo] e na Chefatura da Polícia Civil [delegado Gilberto Ribeiro]. Esses nomes, e as equipes que estes nomes trazem, são os nomes, digamos, que teriam sido os indicados por setores da sociedade civil, pelos especialistas de segurança. Nós temos então uma equipe que é uma equipe de excelente qualidade, mas estamos vivendo um momento que talvez seja um dos piores momentos da segurança pública no Rio de Janeiro nos últimos anos. Acho que esta ocupação prolongada, ou tentativa de ocupação, aquele cerco que está sendo feito pela Polícia Militar há mais de 50 dias, ali em algumas favelas de uma área que a mídia chama Complexo do Alemão – na verdade, são algumas favelas do Complexo da Penha e outras do Complexo do Alemão –, levou a PM a uma espécie de encruzilhada. A sensação que a gente tem é que nem a própria polícia sabe mais o que fazer. Ela não pode voltar atrás: há um compromisso público do secretário de Segurança Pública e do Comandante Geral da Polícia Militar de não recuarem frente à presença de grupos armados que tomam conta daqueles territórios, por um lado. Por outro lado, esse tipo de enfrentamento diário está trazendo um nível de desgaste que está sendo quase insuportável.


Exaustão, desgaste, trauma


Os contatos que nós, do Cesec, temos tido com lideranças das favelas da Vila Cruzeiro, da Grota, Nova Brasília, Fazendinha e outras revelam que os moradores estão chegando a uma espécie de limite de exaustão em termos de intranqüilidade, de crise. As pessoas não têm mais hora para sair para o trabalho, as crianças não vão mais para a escola, tem um nível muito profundo de desgaste emocionais, muitas crianças traumatizadas, idosos traumatizados.


Esse, digamos, custo nesse tipo de operação eu acho que não tinha sido previsto pela Secretaria de Segurança e pela Polícia Militar, e está sendo mais e mais oneroso e custoso esse tipo de operação. A polícia parece que diz “nós não vamos recuar”, por um lado, mas por outro lado não faz uma ação que, de uma vez por todas, reduza o poderio dos grupos armados naquela área.


Todos os dias há uma coisa profundamente desgastante e trágica e dramática, com mortos e feridos dos dois lados, porque o índice de policiais feridos e mortos também é muito alto. Sem que haja uma definição, como se, de fato, aquilo fosse uma disputa de braço que nenhum dos dois lados consegue vencer.


A PM se desmoraliza


Eu acho que com isso a PM se desmoraliza. Não estou dizendo que haveria outras saídas fáceis, não é isso, mas o mais grave que está acontecendo hoje, grave a ponto de colocar em risco a credibilidade desses atores, que são os atores indicados para essa crise, essa equipe da Secretaria de Segurança e da polícia, é a inexistência de outros planos.


Quando você tem um governo que começa vivendo uma crise muito profunda, como o do Rio de Janeiro – todo mundo se lembra que dois dias antes da posse do governador Sérgio Cabral houve aqueles ataques a ônibus, com ônibus queimados, pessoas mortas dentro dos ônibus, teria sido um tipo de “aviso” de lideranças dessas facções criminosas do Rio de Janeiro – e o governador disse “não vou recuar”, então fez um movimento de levar essas lideranças para o presídio federal, fora do Rio de Janeiro, e começou a responder com dureza aos ataques, a esse tipo de ação dos grupos armados.


O que parece que não ocorreu: simultaneamente a esse tipo de resposta à crise, ou seja, de operações reativas, que respondem a uma crise, a um evento, o governo deveria estar já procurando construir as respostas de longo prazo, que daqui a três, quatro anos vão aparecer. Me parece, com quase seis meses de governo, é que esse governo só está respondendo à crise e não está produzindo respostas de longo prazo. Todos os dias tem uma crise nova e as respostas às crises são sempre extremamente insatisfatórias, insuficientes, ineficazes, e muitas vezes perigosas e arriscadas, com vidas sendo levadas, dos dois lados.


Ações reativas são arriscadas e ineficazes


A impressão que se tem é de que o governo foi conduzido para uma determinada situação, foi quase atraído para uma armadilha, um encadeamento de fatos que não foi planejado. Houve o assassinato do menino João Hélio, que não foi planejado, eu não acredito que aquilo tenha sido planejado por ninguém, nem por bandido, nem coisa nenhuma, foi um acidente. Nem foi o primeiro desse tipo no Brasil – houve outro em Belo Horizonte há alguns anos, uma funcionária pública morreu também, ficou presa no cinto de segurança durante um assalto. O assassinato do menino provocou uma onda de indignação, como deveria ter provocado mesmo, e, no momento em que os dois PMs que estavam supostamente reforçando aquela área, porque é uma questão até quase simbólica – aquilo não impedia nada de acontecer, mas era preciso dar uma resposta para a população –, esses dois foram assassinados. Aí já eu não sei se foi por acaso, não tenho a menor idéia, não conheço suficientemente o assunto. E aí a polícia diz ‘Não. Nós vamos lá pegar os miseráveis que fizeram isso’. E isso não termina mais! E é uma pouco essa a realidade, vamos dizer assim, factual. A paisagem que enxergamos, como diz Andrelino Campos, é um pouco essa.


S. R. – Eu acho que, sim, você tem razão no sentido de que as ações de segurança no Rio de Janeiro são, todas elas, muito reativas. E ações reativas têm esse perfil que eu estava indicando. Sabidamente, elas são muito ineficazes, do ponto de vista de seus resultados, e muito arriscadas do ponto de vista de seus prováveis danos, civis e policiais feridos ou mortos dos dois lados. Isso é típico, isso é padrão, todo mundo sabe que essas operações reativas são assim.


Você se lembra muito bem, quando sumiu aquele fuzil do Forte de Copacabana, a PM e o Exército ficaram lá com tanques de guerra, e isso não é uma metáfora, eram de fato tanques de guerra em frente do Morro da Providência [Centro do Rio] e os traficantes lá debochando. Esse tipo de ação reativa é sempre muito ruim do ponto de vista da eficácia das ações. Normalmente você não prende ninguém, você pega muito poucas drogas, armas e munições.


As ações planejadas, que têm um mínimo de inteligência, quando já se sabe onde estão as drogas e as armas, tendem a ser infinitamente mais produtivas, do ponto de vista de eficácia nos resultados, e muito melhores do ponto de vista dos riscos. Você tem razão no sentido que a PM responde e não se antecipa. Mas, me parece que, no caso do Complexo do Alemão, o que ocorreu é que, coincidência, ou não, mas de fato o motivo que levou à primeira incursão da PM no Complexo do Alemão teria sido o assassinato daqueles dois PMs ali na área do 9º Batalhão, na mesma rua inclusive em que houve o assassinato do João Hélio. E as duas pessoas que teriam sido identificadas como os autores fugiram para dentro dessas duas áreas dos Complexos, precisamente o Complexo da Penha, na Vila Cruzeiro. O que o comandante [Ubiratan Ângelo] fala é o seguinte: eles tentaram evitar ao máximo uma resposta do tipo ‘vingança’. Não deixaram nem os policias do 9º Batalhão atuarem ali e nem mesmo policiais do 16º Batalhão. Colocaram o Bope [Batalhão de Operações Especiais] para entrar ali, tendo uma preocupação de que quando o Bope entra os danos tendem a ser menores – os tiros perdidos tendem a ser menores, etc. Havia até essa idéia de que ia entrar uma tropa de elite e não a tropa dos policiais que estão na rua fazendo o policiamento. O comando diz que, em matéria de resposta a bandidos, isso é uma novidade. “É reativa, sim, porque nós temos que passar a noção de que não vamos deixar barato os caras saírem de uma comunidade, assassinarem dois policiais e voltarem correndo para dentro”, mas não seria descontrolada.


E a segunda razão, diz o Comando da Polícia Militar – disse isso várias vezes em reuniões conosco, especialistas, mas também já ouvi dizerem isso publicamente –, é que a área do Complexo do Alemão é uma área onde o tráfico, particularmente o Comando Vermelho, que é a maior facção criminosa aqui do Rio de Janeiro, tornou praticamente inexpugnável. É a área onde estão os maiores paióis de munições e armamentos, sobretudo munições, do Rio de Janeiro, e a área que distribui as drogas para todas as outras favelas do Rio de Janeiro filiadas, digamos assim, a essa facção, o Comando Vermelho. Então houve um duplo sentido.


Agora, segundo a polícia, não estão mais atrás daquelas duas pessoas acusadas daquele assassinato, mas estão ali no sentido de reduzir a presença destes grupos armados. A PM faz diariamente aquelas operações do tipo tirar os trilhos que colocam nas ruas, recolocar as tampas da rede fluvial que passa ali por baixo (tiram essas tampas para que os carros grandes não entrem).


Por que não fazem uma operação com mais policiais de uma vez só?


O que parece é que, resultado daquele assassinato inicial, a Polícia Militar resolveu que não vai recuar diante do poderio daqueles grupos. Estranho, de fato, é: por que não fazem uma ocupação com muito mais policiais de uma vez só? No sentido de não permitir essa sangria diária, dia após dia, esse desgaste monumental. Outro dia eu vi uma entrevista do secretário Beltrame dizendo que, se fosse feita uma operação dessas de uma vez só, haveria muito mais mortos e feridos dos dois lados, sobretudo do lado dos moradores. Por isso que não haveria esse tipo de resposta.


Eu não sei. Nós estamos todos aqui, de certa forma, perplexos, acompanhando isso diariamente como moradores da cidade, lendo as notícias e, sobretudo, nos aproximando das lideranças locais. Recentemente Julita Lemgruber [diretora do Cesec] publicou um artigo no Globo porque um desses líderes esteve aqui e disse, literalmente: “Olha, quando acabar essa ocupação a gente não vai precisar de serviços sociais, a gente vai precisar de psiquiatras e de psicólogos, porque está todo mundo traumatizado, lá”.


Eu acho que é preciso também levar em conta essas lideranças. Elas são as primeiras a dizer que as pessoas não agüentam mais. Eles evitam dizer que querem que a polícia saia, para não parecer que eles preferem os traficantes – de fato, não preferem os traficantes. Esses grupos de jovens armados de fuzis lá se tornaram cada vez mais cruéis e absolutamente sem nenhum escrúpulo, por um lado, mas, por outro lado, as pessoas não suportam mais tiroteios e a presença da polícia diariamente nas entradas e saídas, impedindo que os próprios moradores entrem e saiam.


Anteontem (18/6), por exemplo, a polícia fez uma operação na hora de saída de uma escola. Foi primeira página dos principais jornais do Rio de Janeiro: criançada e senhoras correndo. Esse tipo de foto já está trazendo um tipo de desgaste para a polícia. A polícia já está sendo quase que condenada por estar fazendo isso. Fazer uma operação na hora da saída da escola, sem nenhuma preocupação, sem se preocupar de fato com a foto do dia seguinte no jornal?


“Não dá para não dizer que equipe da Segurança está perdida”


Acho que tem havido de fato muitos erros e não dá para não ficar assombrado com o que está ocorrendo. Assombrado e preocupado. Nós, eu, pelo menos, ainda acho que o coronel Ubiratan, o próprio Gilberto Ribeiro, da Polícia Civil, e o próprio Beltrame, essa equipe é da melhor qualidade, mas não dá para não dizer que eles estão perdidos. E acho que a saída para isso era começar a implantar, de todo jeito, já, outros programas na polícia, na área de segurança pública e na área de ações sociais, em outras comunidades do Rio e ali mesmo.


Por exemplo, o Coronel Ubiratan demorou um mês e alguns dias para ir lá e fazer uma reunião com os diretores de escola. Isso é uma coisa que deveria ter sido feita na primeira semana. Todos esses detalhes revelam isso que você está falando – esse negócio de ação reativa meio impensada, meio feita na base do sangue quente.


Não vejo nenhum motivo para não acreditar no que a senhora está dizendo quando avalia que se trata praticamente da melhor equipe de Segurança Pública cogitável. Uma pessoa mais exigente diria: Se é a melhor equipe, ela teria que ter o melhor planejamento. Se não, ela não é a melhor equipe. Vamos dar esse desconto, fingir que não existe essa restrição à qualificação da equipe. O que explicaria o fato de a melhor equipe não saber reagir, responder da maneira mais adequada? Por exemplo, um exemplo que a senhora deu, é uma perfeita colocação, mais homens, não necessariamente entrando e dando tiro, mas mais homens no cerco, em princípio, provocariam menos mortes. A minha experiência de vida é a seguinte: toda vez que tem um problema de conflito, manifestação, vamos fazer uma manifestação, a polícia não vai deixar. Se a polícia manda pouca gente, pode degenerar. Se a policia manda muita gente, não degenera. Em Volta Redonda, em 1988, ao invés de mandar a tropa de choque da PM, mandaram recrutas do Exército que ficaram apavorados. A explicação técnica que me deram foi essa. O comandante da tropa naquela ocasião era um oficial que quase foi cassado em 1964 [general José Luiz Lopes]. Era um homem de boa índole. Não era um taradão da linha-dura, nada disso. Talvez ele não tinha tido controle sobre os subordinados, principalmente tenentes, ainda verdes. O que aconteceu, pelo visto, foi que a tropa ficou apavorada. Os operários da Companhia Siderúrgica Nacional ficavam fazendo um barulho ensurdecedor horas a fio, batendo com ferros em partes de metal dos prédios. A tropa de choque da PM é treinada para ouvir aquilo dez dias seguidos e nem prestar atenção. Xinga a mãe, o soldado da PM não olha. Agora, recruta do Exército… Eu vi em 68 recrutas do Exército na Avenida Presidente Vargas [Centro do Rio]. Eles ficam totalmente apavorados. Apavorados com o risco de apanhar, de levar um tiro e de dar tiro, porque sabem que vai ter processo.


Tudo adiado em função do Pan


S.R. – Eu acho que este tipo de planejamento não é dessa equipe. É do governo. Os outros governos, no caso do governo Aécio Neves [Minas Gerais], por exemplo, cujo planejamento passou a fazer efeito no final do terceiro ano, início do quarto ano do governo, coordenado pelo [Luís Flávio] Sapori enquanto a PM e a Polícia Civil respondiam àquela crise que começou no governo anterior ao do Aécio com aquela greve na PM – uma greve terrível, com rebelião, enquanto estava tendo aquilo, tinha uma equipe de governo com Anastasia [Antônio Augusto Anastasia era secretário de Planejamento e Gestão; no segundo mandato de Aécio é vice-governador] desenhando um programa para a segurança.


Acho que isso teria que vir da parte do Sérgio Cabral, da equipe do Sérgio Cabral. Isso não virá da Secretaria de Segurança. A Secretaria de Segurança está tendo que responder a crises diariamente. Eu acho que programas de governo têm que vir do governo, têm que vir de uma equipe do Sérgio Cabral. E acho que não têm vindo.


Tem essa história desse Pan também… Fica tudo sendo adiado. ‘Ah, porque depois tem o Pan!’. Essa é uma coisa que, no Rio de Janeiro, está atrapalhando bastante. É, digamos assim, a desculpa ou a razão alegada para não fazer algumas coisas de planejamento de longo prazo.


“Podemos ter surpresas positivas”


Eu acho que podemos ter surpresas positivas. Eu acho tão pouco qualificadas as respostas que o governo está dando nessa crise do chamado Complexo do Alemão que é possível que em alguns dias… Eu acredito em surpresas. Eu quero ser surpreendida por uma grande operação, altamente qualificada, que deixe de sangrar a cidade todos os dias, pelo menos por um tempo, e que signifique a chegada e a presença, não só de policiamento respeitoso para esta área, mas também de outros projetos. Eu acho que se acontecer não vai ser como as da Polícia Militar, que ele tem que responder às crises. Tem ameaça de que vai ter um tiroteio em um lugar tal da cidade, ele tem que mandar os homens para lá. Não tem muito jeito, realmente. Acho que não é dele que teria que vir um grande planejamento da área de segurança pública. Isso teria que vir do governo Sérgio Cabral e não está vindo, por enquanto.


(Transcrição de Tatiane Klein.)


Leia também ‘Milícias são a novidade, mas permanecem ocultas‘, segundo debate sobre a violência no Rio.


[Nota de 22/6: o jornalista Jorge Antonio Barros, em seu blogue Repórter de Crime, dá as seguintes explicações para o armamento e a munição abundantes (copiado a unha da tela do computador, devido às inteligentíssimas restrições feitas no portal globo.com ao uso de material lá publicado): ‘Além de serem municiados por policiais da banda podre, os bandidos aprenderam muito bem a fazer a recarga (produzir a própria munição), que ainda precisa, sim, de pólvora, espoleta e projétil. Mas não há dúvidas de que o tráfico no Alemão continua sendo abastecido de armas, munição e drogas‘. E adiante: ‘Outro fato que intriga Silvia é como os bandidos dispõem de grande quantidade de granadas. Na verdade, eles usam cada vez mais armas de fabricação artesanal, que devem ter aprendido a fazer na internet. Mas as granadas defensivas, de uso exclusivo das Forças Armadas, são usadas por bandidos desde a década de 80. Em 88, eu mesmo vi uma bolsa cheia delas num encontro furtivo que tive com o então chefe do tráfico na Rocinha, Sérgio Bolado, e seus aliados, quando morei na favela para fazer uma reportagem. Na década seguinte, militares argentinos em busca de ganhos extras trataram de oferecer granadas a traficantes de armas do Cone Sul. Grande parte desses artefatos parou nos morros cariocas‘.]