Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Pessoal de Palocci escreve com a letra do Chacrinha

Ganha um chope no célebre Pingüim de Ribeirão Preto quem tiver a paciência de ler de ponta a ponta – e entender, e aceitar – a carta da assessoria de Comunicação Social do Ministério da Fazenda que ocupa uma coluna de alto a baixo na página A 15 do Estado de hoje.

A carta pretende contestar a matéria do mesmo jornal, no último sábado, segundo a qual o hoje ministro Antonio Palocci registrou por R$ 57,70 e por R$ 818,18 dois imóveis adquiridos em 1992 e 1993 na pujante cidade da qual foi prefeito.

“Os valores citados pelo jornal”, diz a carta, “correspondem a conversões de moeda da época, em seus valores históricos adotados para fins de registro imobiliário”. E repete, dois parágrafos adiante: “Evidente, portanto,que os valores registrados são apenas fruto da conversão da moeda.”

Se ficasse por aí, até que passava. Mas a isso se segue, não se sabe bem por que, uma conversão para dólar do valor de aquisição de um imóvel (e o outro?). E o seguinte oportuno esclarecimento, com toda a cara de ter sido redigida por um burocrata do Fisco:

“Esclareça-se, por oportuno, que a legislação do Imposto de Renda das Pessoas Físicas, além de incorporar as alterações do padrão monetário, estabelece normas específicas de valorização, como, por exemplo, declaração pelos valores efetivamente pagos (aquisição/alienação a prazo) e, até 1995, atualização monetária, além de considerar contratos particulares, ainda não submetidos a registro público.”

Ah, bom.

E para os eternos desconfiados, a carta traz a “memória de cálculo” de cada um dos imóveis (uma casa e um apartamento). É uma viagem que começa em cruzeiro (Cr$), faz escala em cruzeiro real (CR$), seja lá o que isso queira dizer, para chegar, depois de uma divisão por Cr$ 1.000,00 e outra por CR$ 2.750,00, ao real (R$).

Confuso, depois de ler a íntegra da explicação? Quem mandou não estudar?

A sério: ou a assessoria de Comunicação Social da Fazenda acha que, nestes dias de Delúbios, Valérios e Burattis, esse é o modo mais indicado de comunicar ao leitor de jornal uma explicação ministerial sobre uma informação aparentemente delicada que envolve negócios e números, ou Palocci quis dar uma de Chacrinha, aquele que não vinha para explicar, mas para confundir.

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