Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Por que não antes? Por que agora?

A Folha – até com chamada na primeira página – e o Estado dão hoje que o ex-governador de Goiás e candidato a senador pelo PSDB, Marconi Perillo, contou como Lula reagiu quando o alertou, em 5 de maio de 2004, para a existência do mensalão.

‘Cuide de seus deputados que eu cuido dos meus’, teria dito o presidente.

Em junho do ano passado, ainda governador, Perillo revelou pela primeira vez ter advertido o presidente sobre o esquema. No mês seguinte, em carta-depoimento ao Conselho de Ética da Câmara, ele confirmou ter feito o alerta.

‘Ouvira rumores sobre a existência de mesada a parlamentares em conversas informais em Brasília, porém sem provas concretas’, se lê em um trecho da carta. Em outro: ‘O senhor presidente da República disse que não tinha conhecimento e que ia tomar as providências que o assunto requeria.’

Nada de ‘Cuide de seus deputados que eu cuido dos meus’.

Hoje, nos títulos, o Estado informa que ‘Lula sabia sim do mensalão, afirma ex-governador tucano’. A Folha, melhor, noticia que ‘Ex-governador de Goiás muda versão sobre relato de mensalão a presidente’

[Dos três grandes, o Globo foi o único a perder a história.]

O ex-governador disse o que disse ontem, em declarações a jornalistas no aeroporto da cidade goiana de Jataí, enquanto esperava chegar o avião que trazia o correligionário Geraldo Alckmin.

A matéria do Estado, assinada por Christiane Samarco, fala que Perillo ‘complementou [sic] sua versão’. Acrescenta que ‘Perillo jamais havia contado’ a alegada resposta de Lula. E cita o tucano: ‘Nunca disse isso a ninguém. Mas como o Lula tem problema de amnésia, deve ter esquecido disso também.’

A Folha, na matéria assinada por Silvio Navarro, lembra que Perillo decidiu retomar o assunto ontem, ‘a menos de um mês da eleição’. E informa que ‘Perillo não respondeu por que só citou a conversa em detalhe agora.

Ah, é? Ah, é?

E que repórteres são esses, e os demais ali presentes, que deixaram o político escapar com tamanha facilidade depois de fazer uma afirmação tão grave. Se lhe perguntaram o porquê do só agora e ele não respondeu, tinham mais era que prensá-lo sem parar até que respondesse. E se ainda assim não o fizesse, o silêncio do acusador deveria merecer nas matérias destaque proporcional à acusação.

Literalmente por dever de ofício, os repórteres não podiam deixar de perguntar também se, na carta ao Conselho de Ética, em que dava o caso por encerrado porque não possuía provas dos rumores que lhe chegaram, Perillo tinha tido um surto de amnésia, do qual se recuperava 13 meses depois.

Afinal, ele não disse que Lula ‘deve ter esquecido disso também’?

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